Sob risco de salto na inflação, Lula deve discutir desoneração da gasolina na 2ª

Nos cálculos da Abicom, gasolina deve saltar cerca de 69 centavos a partir de quarta-feira (1º), impacto na inflação pode chegar a 0,75 pontos percentuais segundo especialistas

07/03/2022REUTERS/Adriano Machado Sob risco de salto na inflação, Lula deve discutir desoneração da gasolina na 2ª Bomba de gasolina em posto de combustíveis de Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates (PT), na próxima segunda-feira (27). O encontro marcado para às 18h deve tratar a desoneração dos combustíveis que só vale até o meio da semana que vem segundo interlocutores ouvidos pela CNN.


A regra só vale até o final de fevereiro, que termina na terça (28). A partir de quarta-feira (1º), postos de combustíveis já terão que pagar os impostos federais para vender gasolina, o que deve fazer o preço subir instantaneamente.


Nos cálculos do economista André Braz, da FGV, a previsão direta de impacto é de uma inflação 0,75 ponto percentual maior no mês de março. O salto se deve ao fato de que o IBGE calcula um peso de 5% do combustível no orçamento familiar.


Mesmo com a taxa alavancada, o IPCA de março desse ano deve ser menor que o do mesmo mês do ano passado segundo o especialista. Em 2022, o mês teve alta de 1,6% na inflação. Nesse ano, a estimativa dele é algo em torno de 1%. Tudo vai depender do comportamento dos preços de alimentos e vestuários.


O IBGE divulga a inflação oficial do mês sempre no mês seguinte. O índice que será divulgado no dia 10 de março deve captar o aumento das mensalidades escolares que é pesquisado em fevereiro. Já o IPCA de março, que será divulgado em 11 de abril vai apontar o impacto da gasolina caso a desoneração chegue ao fim.


Havia uma expectativa de que até terça, a Petrobras conseguisse fazer uma mudança na política de preços da estatal, derrubando a paridade de importação e estabelecendo um fator que não provocasse a disparada nas bombas.


O problema é que, para isso, Jean Paul Prates precisaria de um plano pronto e validado pelos conselheiros e diretores da estatal, o que não aconteceu. Prates já apresentou os nomes de quem quer na diretoria e também já tem parte da lista dos que quer ver no Conselho. A posse, no entanto, está marcada para abril.


Os remanescentes nos dois colegiados da Petrobras são da gestão de Jair Bolsonaro (PL) e seus respectivos indicados para a presidência da Petrobras: Roberto Castello Branco, Joaquim Silva e Luna, José Mauro Coelho e Caio Mário Paes de Andrade.


Em visita ao Rio de Janeiro, no fim do mês passado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, já havia dito à CNN que não havia discussões em curso sobre uma eventual prorrogação da desoneração de impostos sobre a gasolina, o querosene de aviação e o gás veicular.


Nos cálculos da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o litro da gasolina deverá aumentar em cerca de R$ 0,69 e o do etanol em R$0,24.


“Pegamos o PIS/Cofins e a Cide da gasolina e o PIS/Cofins do etanol anidro, que também vai voltar. Com base na proporção a gente calculou o valor”, conta o presidente da Abicom, Sérgio Araújo à CNN.


“Além do aumento do custo para o motorista, aumenta também a competitividade do etanol, que terá reajuste menor que a gasolina. Pesa no bolso do consumidor e impacta na inflação, mas por outro lado permite aumento na arrecadação do governo federal”, completa ele.


Pessoas que acompanham essa discussão dentro da Petrobras dizem que não há como, a essa altura, tirar um ‘coelho da cartola’. Uma mudança em tão pouco tempo, de uma hora para outra, sem estudos, poderia causar um impacto muito negativo no mercado.


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