Eleições nos EUA: uso de deepfake e IA revela problema que pode se repetir no Brasil

Autoridades americanas estão investigando o primeiro caso de uso de inteligência artificial em tentativa de interferir nas eleições do país; TSE debate o mesmo tema no Brasil esta semana

Foto: Reprodução/CNN (22.out.2020) Eleições nos EUA: uso de deepfake e IA revela problema que pode se repetir no Brasil Donald Trump e Joe Biden durante o último debate antes da eleição presidencial dos Estados Unidos de 2020.

As autoridades dos EUA estão investigando o primeiro caso de uso de inteligência artificial (IA) para tentar influenciar o resultado das eleições presidenciais deste ano no país – um problema que pode se repetir no Brasil nas disputas municipais.


Trata-se de uma gravação falsa simulando a voz do presidente Joe Biden que circulou no estado de New Hampshire nos últimos dias, às vésperas das primárias desta terça-feira (23) no estado.


A gravação, um deepfake produzido com o uso de IA, pede aos membros do Partido Democrata que fiquem em casa e não participem das primárias da legenda.


“É importante que você guarde seu voto para as eleições de novembro. Votar nesta terça-feira apenas ajudará os republicanos em sua tentativa de eleger Donald Trump novamente”, diz o áudio.


A Casa Branca confirmou que a gravação não foi feita por Biden. O procurador-geral de New Hampshire, John Formella, confirmou também que que está investigando o que chamou de uma aparente “tentativa ilegal de atrapalhar as eleições primárias presidenciais”.


A campanha do ex-presidente Donald Trump disse que “absolutamente não” está envolvida com o áudio falso.


O episódio nos Estados Unidos confirma os receios de que novas tecnologias podem ser usadas para manipular os eleitores e impedir a realização de disputas limpas, inclusive no Brasil.


As autoridades brasileiras estão tão preocupadas com o problema que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que vai debater esta semana propostas inéditas de regulamentação da inteligência artificial na propaganda eleitoral nas disputas municipais deste ano.


As propostas serão discutidas, em conjunto com várias outras medidas, em reuniões que serão realizadas em Brasília a partir desta terça-feira (23) até quinta-feira (25).


A iniciativa do TSE mostra também que o Brasil está avançando mais rapidamente do que os Estados Unidos na necessidade urgente de conter fake news, desinformação, deepfakes e outras tentativas de manipulação política e eleitoral.


Nos Estados Unidos, com uma tradição mais federativa, a regulamentação de vários pontos das regras eleitorais dependem de autoridades estaduais, e não das federais.


Um levantamento recente da agência de notícias Bloomberg mostrou que apenas cinco estados americanos (Califórnia, Texas, Michigan, Washington, e Minnesota) já aprovaram leis proibindo o uso de IA em campanhas eleitorais.


Outros sete muito provavelmente adotarão medidas similares este ano.


No entanto, mais da metade dos estados vão continuar sem a necessária regulação da área.


A Comissão Eleitoral Federal dos EUA também começa a debater o problema, mas não há garantias de grandes avanços para as eleições deste ano.


O caso de New Hampshire pode ser considerado também o primeiro teste importante para conter a manipulação.


E isso acontece numa primária sem grande valor na escolha do candidato do Partido Democrático, já que a legenda decidiu modificar seu calendário eleitoral, colocando a Carolina do Sul como o estado da primeira prévia que vai, de fato, contar votos para os possíveis candidatos.


New Hampshire, no entanto, seria um teste importante para se aferir a popularidade de Biden entre os eleitores do partido.