Deputado Trutis tenta remover informações sobre atentado forjado na Wikipédia

Deputado também tentou adicionar informações que foram consideradas "publicitárias" pela plataforma

Divulgação Deputado Trutis tenta remover informações sobre atentado forjado na Wikipédia

Sob o risco de tornar-se réu no STF (Superior Tribunal Federal) após ser acusado de forjar atentado contra si em fevereiro de 2020, o deputado federal Loester Trutis (PL) tentou remover informações da Wikipédia em sua página de biografia. Conforme levantamento feito pelo Estadão, os alvos da edição na plataforma colaborativa foram justamente as informações que narram as investigações sobre o suposto atentado.

O atentado em questão teria ocorrido na BR-060 em Mato Grosso do Sul no dia 16 de fevereiro de 2020. O deputado afirmou que o veículo em que trafegava havia sido alvejado por um atirador. Todavia, para a PF (Polícia Federal), o acontecimento foi forjado, o que resultou em seu indiciamento e, posteriormente, denúncia feita pela PGR (Procuradoria Geral da República) ao STF, em razão do foro privilegiado do parlamentar.

No entanto, segundo a reportagem do Estadão, as alterações foram revertidas seis minutos depois pela enciclopédia virtual. Segundo informações do Estadão, as modificações foram feitas em abril por uma usuária com o mesmo nome de uma das assessoras de Trutis.

Além de tentar retirar a acusação de forjar o próprio atentado, a usuária teria adicionado informações sobre o parlamentar na biografia. O texto foi removido pela plataforma, que considerou o conteúdo publicitário.

Ao Jornal Midiamax, o deputado disse que “todo assessor de todo parlamentar atualiza a biografia”. Ele citou ainda que recentemente terminou uma pós-graduação e atualizou as biografias com a informação. Sobre a matéria do Estadão que cita o sul-mato-grossense e outros parlamentares, Trutis disse que “não vê relevância nisso para valer uma matéria, ainda mais em uma época em que a gente está que tantas notícias são relevantes”.

Deputado pode tornar-se réu

Na última sexta-feira (5), foi inciado análise no STF (Supremo Tribunal Federal) do deputado Loester Trutis (PL), para definir se a Corte recebe ou não denúncia formalizada pela PGR pela acusação de ter simulado atentado na BR-060 em Mato Grosso do Sul no dia 16 de fevereiro de 2020.

A primeira a votar foi a ministra Rosa Weber, relatora do processo criminal, que votou pelo recebimento da matéria, em sessão virtual do STF - os demais ministros têm até o próximo dia 15 para publicarem os votos contra o parlamentar sobre a simulação de atentado.

"Ante o exposto, havendo prova da materialidade delitiva e indícios suficientes de autoria, voto pelo recebimento da denúncia oferecida contra o Deputado Federal Loester Carlos Gomes de Souza e Ciro Nogueira Fidelis [assessor que acompanhava o deputado naquela ocasião], imputando-lhes a prática, em concurso material, dos crimes de comunicação falsa de crime (CP, art. 340), porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (Lei nº 10.826/2003, art. 14) e disparo de arma de fogo (Lei nº 10.826/2003, art. 15)".

Ainda conforme o voto da relatora, os argumentos trazidos pela defesa do parlamentar "não são suficientes" para desqualificar as provas levantadas na fase de investigação. Se a denúncia for aceita pela maioria dos 11 ministros do STF, Trutis e Ciro Fidélis, então, serão réus e irão responder pelas acusações na suprema corte.

Wikipédia faz detecção

Vale lembrar que a Wikipédia é uma enciclopédia online de livre edição, onde qualquer pessoa pode alterar os verbetes, contanto que siga as regras de bom uso da plataforma. Conforme o Estadão, além de Trutis, pelo menos outros dois parlamentares foram notificados sobre tentativas de alterar conteúdos.

O Estadão também detectou 23 termos relativos à política brasileira que estão sob algum tipo de restrição para a edição. Entre eles o nome de três presidenciáveis: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Simone Tebet (MDB).

Para o vice-presidente do Wiki Movimento Brasil, Chico Venâncio, a criação de conteúdo do Wikipédia traz menos desinformações que outras plataformas. "É um processo com muitos voluntários e edições não construtivas são corrigidas ou retiradas relativamente rápido", explicou ao Estadão.