Câncer: Práticas podem ajudar pacientes a lidarem com o diagnóstico

Receber o diagnóstico da doença é desafiador, mas requer não gerar negatividade e cuidados com a saúde mental

Fly View Productions/GettyImages Câncer: Práticas podem ajudar pacientes a lidarem com o diagnóstico Algumas práticas podem ajudar a lidar melhor com o diagnóstico de câncer, tornando o processo um pouco mais leve

Receber o diagnóstico de câncer não é fácil. Inúmeros pensamentos podem vir à mente, refletindo as incertezas sobre o tratamento e, principalmente, o medo sobre o futuro, podendo gerar ansiedade e tornando o processo de aceitação da doença ainda mais delicado. No entanto, existem algumas maneiras práticas de tornar esse momento um pouco mais leve.


“O diagnóstico de câncer sempre vai trazer incertezas para o paciente. Então, uma das maneiras de tentar amenizar um pouco essa sensação é formular um plano e dar perspectiva do que vai acontecer pela frente. Isso traz bastante tranquilidade, porque uma das principais causas da ansiedade não é só o medo diante do diagnóstico, é o medo de não saber o que vai acontecer”, afirma Daniela Rosa, oncologista clínica e membro da diretoria da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).


Esse plano estratégico passa tanto por questões médicas, como etapas do tratamento e cuidados específicos no dia a dia, até questões psicológicas e pessoais.


Veja abaixo algumas medidas que podem ajudar a lidar com o diagnóstico de câncer e a reduzir a ansiedade diante do tratamento da doença.


É natural sentir medo e ansiedade diante de um diagnóstico de câncer e esse sentimento deve ser respeitado, tanto por pessoas ao redor, quanto pela própria pessoa que recebeu o diagnóstico. Não se culpar e se permitir sentir essas emoções é um primeiro passo importante. Mas é preciso ficar atento para não se apegar a essas emoções. Apenas sentir e soltar.


“O medo é uma reação natural diante da incerteza e da ameaça à vida e é importante se permitir sentir e expressar essa emoção. No entanto, é igualmente importante não se deixar dominar pelo medo”, orienta o psicoterapeuta Thiago Guimarães, especializado pelo Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa de São Paulo.


“Uma abordagem útil é explorar as origens desse medo, identificando quais aspectos específicos do diagnóstico estão desencadeando essa emoção. Isso pode envolver examinar crenças subjacentes sobre a doença, a morte, o sofrimento, entre outros temas”, completa o especialista.


Ao conseguir compreender suas emoções e, minimamente, suas origens, é importante também tentar racionalizar a situação.


“Uma dica simples é pensar como seria possível ajudar uma amiga que recebesse o mesmo diagnóstico”, sugere Larissa Fonseca, psicóloga especialista em ansiedade, crise de pânico, burnout e sono.


“Avaliar o que pode ser feito dali para frente também é uma atitude importante que vai acrescentar o processamento racional”, acrescenta.


Uma das maneiras de enfrentar de forma racional o diagnóstico do câncer e reduzir a ansiedade é se informando através de fontes confiáveis. Para isso, é essencial não ter receio de tirar todas as dúvidas com o profissional de saúde que está realizando o atendimento, além de buscar outras referências especializadas.


“O paciente pode e deve perguntar para a equipe de saúde onde buscar informações confiáveis. Existe muita desinformação, as famosas fake news. O câncer ainda é um assunto muito debatido e existe preconceitos com base em dados antigos sobre a doença e sobre o tratamento oncológico e isso deve ser desmitificado. E a melhor maneira de fazer isso é procurar fontes confiáveis de informação”, ressalta a oncologista Daniela.


Essas fontes de informação podem ser sites do governo, como do Ministério da Saúde, instituições oncológicas e ONGs (Organizações Não-Governamentais), além da própria equipe de saúde que atende o paciente.


Contar com uma rede de apoio é fundamental para se manter firme após o diagnóstico e ao longo de todo o tratamento. No começo, pode ser desafiador e delicado dar a notícia para os familiares e amigos, mas é necessário ser sincero sobre o que está acontecendo.


“É importante escolher o momento certo e um ambiente tranquilo para a conversa. É fundamental ser honesto sobre a situação, compartilhando informações de forma clara e objetiva, mas também demonstrando empatia e disponibilidade para responder às perguntas e preocupações dos familiares”, diz o psicoterapeuta Thiago.


A comunicação aberta e sincera com os familiares e amigos próximos é fundamental para que todos possam enfrentar a situação de uma maneira forte e unida.


“Se possível, leve o familiar na consulta médica para abordarem o assunto de forma prática e sob orientação do profissional de saúde. O psicólogo também poderá auxiliar neste processo com a família”, completa Larissa.


Além dos familiares, é interessante buscar grupos de apoio específicos para pacientes com câncer.


“A participação em grupos de apoio oferece uma rede de compreensão e as atividades sociais fortalecem as conexões interpessoais, importantes para o suporte emocional”, explica a psicóloga.


A terapia individual também é uma opção nesse processo, pois oferece ferramentas específicas e individualizadas para abordar padrões de pensamentos negativos e promover uma mentalidade longe da negatividade diante dos desafios do câncer, conforme explica Larissa.


Por fim, mas não menos importante, é fundamental manter uma rotina de autocuidado. Isso inclui desde manter atividades que são prazerosas, como hobbies, ir ao shopping, ao cinema, concertos, passeios e viagens, até manter uma rotina de atividades físicas (respeitando os próprios limites) e uma dieta saudável.


“Vários estudos já mostraram a importância da atividade física antes, durante e depois do tratamento oncológico, tanto para diminuir o risco de ter câncer, quanto para reduzir o risco de ter efeitos adversos do tratamento e diminuir o risco de recidiva [células cancerosas que podem permanecer despercebidas no corpo por anos após o tratamento] do câncer”, afirma Daniela.


Estão inclusas nesse pacote também práticas de relaxamento como a meditação, respiração profunda e yoga. Manter a boa qualidade do sono é outra medida fundamental.


“Praticar técnicas de relaxamento, como meditação, respiração profunda ou yoga, também pode ajudar a acalmar a mente e a reduzir a ansiedade”, finaliza Thiago.