O sonho do hexacampeonato, que foi ganhando corpo nos dois excepcionais anos de trabalho do técnico Tite, terminou de forma amarga, mas não injusta, neste sábado, nas quartas de final da Copa da Rússia. A Bélgica até contou com a sorte, o “imponderável” do futebol, no incompreensível gol contra de Fernandinho, mas cumpriu perfeitamente seu plano e venceu por 2 a 1, na Arena Kazan, graças ao talento de sua melhor geração. Kevin De Bruyne, autor de um lindo gol, o “tanque” Romelu Lukaku e o craque Eden Hazard entraram para a lista de carrascos do futebol brasileiro. E a seleção pentacampeã volta para casa com vários candidatos a “vilão”, inclusive o VAR, que mais uma vez não ajudou, numa derrota dura de digerir. Mais do que organização, faltou ao Brasil inspiração. Os craques desta vez foram os belgas.
Já se sabia que o jogo reunia alguns dos jogadores mais talentosos do mundo: Marcelo, Philippe Coutinho e Neymar pelo Brasil, De Bruyne e Hazard, pela Bélgica – além de vários “coadjuvantes de luxo” como o zagueiro Thiago Silva e o goleiro Thibaut Courtois. O técnico Roberto Martínez, que na véspera se derramou em elogios ao futebol brasileiro, abriu mão de dois meias criativos, Dries Mertens e Ferreira Carrasco, para reforçar a marcação com Maroune Fellaini e Nacer Chadli – exatamente como previa Tite na coletiva no dia anterior. E venceu o duelo tático, especialmente no segundo tempo.
O clima era todo favorável para o Brasil: até mais do que nas outras partidas, o complemento do hino nacional à capela foi cantado com força, uma cena de arrepiar. E o time de Tite começou melhor, empurrado pela festa da torcida – as músicas criadas para esta Copa, de fato, deram um clima mais “de clube”, uma atmosfera poucas vezes vista em jogos da seleção. O Brasil chegou perto do gol aos 7 minutos, com bola na trave de Thiago Silva, após cobrança de escanteio. Em seguida, Paulinho também desperdiçou boa chance.
Foi aí que o “imponderável” deu as caras em Kazan: Fernandinho, que entrou na vaga do suspenso Casemiro, subiu sem nenhum belga em volta, apenas com Gabriel Jesus à sua frente, e desviou de costas para as próprias redes. Uma cena que ficará marcada na galeria das tragédias brasileiras em Copas, com Roberto Carlos ajeitando a meia, o pisão de Felipe Melo em Robben ou a falha do próprio Fernandinho no 7 a 1, há quatro anos. Mais uma vez, o destino foi cruel com o meio-campista tão elogiado por Pep Guardiola e Tite, que fez uma partida tenebrosa.
A seleção brasileira seguiu no ataque e levou certo perigo em chutes de fora da área de Philippe Coutinho e Marcelo. Mas o talento dos craques belgas, aliado á desorganização defensiva do Brasil, foi letal. Em contra-ataque, De Bruyne, que jogou como um “falso 9” e mostrou por que é um dos melhores jogadores da atualidade, com uma chute potente e certeiro, sem chances para Alisson – que deixou a Copa sem realizar uma única defesa difícil.
Tite sacou Willian e depois Gabriel Jesus, novamente apagados, e o Brasil melhorou. Foi amplamente superior no segundo tempo, com destaque para Douglas Costa e Miranda – o zagueiro foi perfeito quando passou a fazer a marcação de Lukaku. O Brasil, no entanto, seguiu esbarrando em sua falta de precisão e inspiração. Neymar fez uma de suas piores partidas pela seleção brasileira, talvez de toda a carreira.
Coutinho também vinha apagado, até dar uma bela assistência para Renato Augusto marcar de cabeça e comemorar com garra e fibra. A torcida explodiu e o Brasil parecia que teria forças para buscar a reação. Neymar ainda teve uma última chance de se consagrar, mas o ótimo goleiro Courtois voou para defender a bola no ângulo. O choro dos jogadores e torcedores foi inevitável. O time terminou com 26 finalizações contra oito da Bélgica. E a Copa do Mundo ficará na Europa pela quarta vez consecutiva.
*Placar
Mín. 23° Máx. 39°