MOSCOU – A França entrou de vez para o clube das grandes seleções de futebol. O segundo título mundial dos “Bleus” chegou neste domingo, em Moscou, com uma vitória por 4 a 2 sobre o admirável time da Croácia, no estádio Lujniki. O excesso de gols talvez não tenha refletido o que foi o jogo, mas, assim como em toda a Copa do Mundo, a eficiência da equipe francesa se fez presente. Depois de um primeiro tempo nas cordas e com decisões discutíveis da arbitragem, o talento e leveza de sua equipe, a mais jovem da Copa (média de 26 anos) acabou com o sonho croata. Paul Pogba (25 anos) confirmou seu amadurecimento e foi um dos nomes da decisão, assim como Antoine Griezmann (27) , eleito o melhor em campo, e Kylian Mbappé (19), o mais forte candidato ao trono do futebol na próxima década. A França conquistou o bicampeonato e já é possível dizer que pinta como candidatíssima ao tri no Catar em 2022.
O técnico campeão, Didier Deschamps, não faz a linha “estrategista”. Ex-volante e capitão da França no primeiro título há 20 anos, preza por um futebol pragmático, de marcação firme, bola parada forte e jogadores rápidos na frente. Uma espécie de “Dunga francês”, com semelhanças em relação ao brasileiro na carreira como atleta e na mão firme como treinador. A principal diferença, talvez, é que em sua aventura como selecionador, teve um material humano mais amplo e soube extrair o melhor de cada um dos jogadores. Se igualou a Zagallo e Franz Beckenbauer, campeões como atleta e treinador.
A França terminou a Copa com seis vitórias e um empate, 14 gols marcados e seis sofridos. Na Copa dos gols de bola parada, 72 no total, contribuiu com seis. Não levou grandes sustos – talvez o momento mais difícil tenha sido o primeiro tempo contra a Croácia, que ainda assim, venceu – e foi a justa campeã. Foi criticada por jogar na defesa, inclusive pelo goleiro belga Thibaut Courtois, mas como contestar um campeão tão eficiente?
Sufoco e VAR
Franceses reclamam em lance decidido pelo VAR (Michael Dalder/Reuters)
A decisão diante de quase 80.000 pessoas no Lujniki comprovou uma das qualidades da França: a resiliência. O primeiro tempo foi bastante movimentado, com a surpreendente Croácia, em sua primeira final de Copas, bem mais incisiva. E teve a arbitragem do argentino Nestor Pitana como protagonista. O primeiro gol da partida saiu de falta marcada sobre Griezmann e protestada pelos croatas. O próprio camisa 7 cobrou forte na direção do gol e a bola desviou em Mario Mandzukic, que marcou o primeiro gol contra da história das Copas. O lance levantou dúvidas se Pogba, em possível impedimento, participa da jogada, mas o árbitro assistente de vídeo (VAR) não intercedeu.
A Croácia seguiu pressionando, com seu maestro Luka Modric e Ivan Rakitic, outro destaque por sua frieza e elegância com a bola, controlando o meio-campo. Mbappé foi bem marcado e pouco fez. E o empate saiu em mais uma jogada originada de bola parada. Modric levantou, Vrsaliko desviou de cabeça e Ivan Perisic soltou o pé esquerdo para marcar um belo gol. O ritmo seguiu intenso e a equipe francesa desempatou em outro lance passível de discussão. Matuidi desviou após escanteio e a bola parou na mão de Perisic. Pitana não marcou imediatamente, mas ouviu a recomendação do VAR e foi rever o lance na televisão à beira do campo. Pênalti confirmado e cobrança com categoria de Griezmann. Mesmo com 40% de posse de bola, França terminou o primeiro tempo em vantagem.
Show dos craques
No complemento, o talento francês fez a diferença. Pogba, atleta que chegou à Rússia contestado após temporadas irregulares no Manchester United, decidiu a partida. Lançou para Mbappé, que acelerou a seu estilo e cruzou para a área. Pogba, então apareceu para finalizar duas vezes, a última de esquerda, no contrapé de Subasic e no fundo das redes. O cansaço de quem disputou três prorrogações (90 minutos, ou seja, um jogo a mais que o adversário) pareceu bater nos bravos croatas e a França matou o jogo com seu menino prodígio. Cheio de confiança e personalidade, Mbappé saiu da ponta direita, levou para o meio e arriscou de fora da área, um chute forte e rasteiro, sem chances para Subasic. De quebra, igualou Pelé como o único jogador com menos de 20 anos a marcar em uma final de Copa – o brasileiro tinha 17 em 1958.
O bom goleiro Hugo Lloris ainda tentou “dar emoção ao jogo”, ao falhar feio e entregar um gol para Mandzukic, mas a pragmática equipe francesa não erraria novamente. A Croácia protagonizou uma das mais belas histórias da Copa mostrando que coração e suor também são importantes no futebol – além, claro, do talento de seus craques –, mas não foi páreo para uma França jovem e com sede de conquistas.
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