Em dezembro de 2009 e fevereiro de 2010, a população de Campo Grande testemunhou duas das maiores enchentes urbanas do século 21, quando as torrenciais chuvas de verão provocaram o desmoronamento do pontilhão da Rua Ceará, na altura da Avenida Ricardo Brandão, e o alagamento da Avenida Afonso Pena e da Rua Paulo Coelho Machado (antiga Furnas), em frente ao Shopping Campo Grande.
O acúmulo e força das águas pluviais provocaram as enchentes em decorrência de dois córregos existentes na região, o Sóter e o Prosa. Este último é formado por mais três nascentes.
A reconstrução do pontilhão e de uma nova galeria de concreto para desviar o Córrego Prosa, localizado na lateral de um condomínio residencial, foi subsidiada pelo Ministério da Integração Nacional e custou aos cofres públicos federais cerca de R$ 25 milhões.
O engenheiro civil José Carlos Ribas morava no condomínio Jardins do Jatobá, localizado na Avenida Afonso Pena, e recorda que acompanhou toda a cena da janela do apartamento. “Foi tudo muito rápido, uma destruição muito grande. Os mais afetados foram os moradores do condomínio Cachoeirinha, no bloco que dá acesso à Rua Ceará, pois aquele ponto recebia água de todos os lados e o declive do terreno favorecia a velocidade da enxurrada”, descreve o profissional.
Na avaliação de Ribas, que é coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil, Agrimensura e Segurança do trabalho (CEECAST) do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul (Crea-MS), o fator principal do alagamento acontecido na época foi a urbanização no entorno do Córrego Prosa.
A dentista Marilene Palhares foi uma das primeiras moradoras do Bairro Chácara Cachoeira e conta que construiu a clínica odontológica na Rua Mar das Antilhas, em 1990.
“Eu acompanhei todas as etapas da obra e percebia que a contenção utilizada não surtiria efeito em caso de chuvas, e foi o que aconteceu. Recordo-me que, em 1994, houve uma enchente grande na altura da Fernando Corrêa da Costa com a 14 de Julho, vitimando o trabalhador de um supermercado existente na época”, revela.
PLANEJAMENTO
A região urbana do Prosa é compreendida por 11 bairros, totalizando uma população de 82,3 mil pessoas. Em razão das enchentes registradas na região, a Prefeitura de Campo Grande desenvolve, desde 2011, planos de ação para contenção das águas e para recuperar as margens degradadas do Córrego Prosa.
O diretor de Planejamento Ambiental da Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb), Rodrigo Giansante, explica que, atualmente, as ações estão concentradas no Córrego Prosa, visto que os três cursos que o compõem se unem no Parque das Nações Indígenas. Outro procedimento preventivo foi construído na Praça das Águas, localizada entre a Avenida Afonso Pena e Ricardo Brandão, no ponto em que o curso apresenta uma pequena cachoeira. Mais adiante, quando o Prosa adentra em direção ao centro da cidade, foram construídos reforços nas laterais a fim de evitar desmoronamentos, como na esquina com a Rua José Antônio. “Foram implantados taludes e gabiões, estruturas que reforçam o solo, que termina no canal do córrego”, complementa o arquiteto.
Sobre o prazo de conclusão das ações, Giansante esclarece que, como cada construção foi realizada em período distinto, algumas foram concluídas, outras estão em andamento e serão finalizadas nos próximos dois anos.
*Correio do Estado
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