Diante da recente dificuldade dos países europeus em chegar a um consenso sobre o acolhimento de dezenas de milhares de imigrantes, uma figura que se apresenta tanto como Marilyn Monroe quanto como um punk vem chamando a atenção do Sudeste da Alemanha por sua visão radical.
Markus Söder, do ultra-conservador União Social-Cristã (CSU), assumiu a liderança do governo da Baviera em março de 2018. Sua ascensão se deu depois da renúncia de seu companheiro de partido, Horst Seehofer, agora um incômodo ministro do Interior no gabinete da primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel.
Por suas convicções anti-imigração e tentativas de manipular a imprensa, o governador barulhento ficou conhecido como o “Trump da Alemanha”.
Mais do que qualquer um, Söder foi responsável por convencer Merkel a rejeitar os imigrantes que chegam à fronteira da Baviera com a Áustria depois de já terem solicitado refúgio em outras nações europeias. A negociação não deve ter sido fácil para Söder — e terá sido difícil para Merkel engoli-la.
A primeira-ministra é conhecida por sua posição favorável ao acolhimento de estrangeiros na Alemanha e assim se manteve até mesmo durante o massivo ingresso de cidadãos sírios, em 2015. A decisão foi tomada no início de julho, quando Merkel também aceitou construir os chamados “centros de trânsito” na fronteira, para identificar as pessoas que pediram o refúgio em outros países da União Europeia.
O governador de direita afirma querer colocar fim ao que chama de “turismo de refúgio” e, sobretudo, diz defender os valores “tradicionais” da Baviera e do Cristianismo. Em junho, ele ordenou que cruzes fossem penduradas em todos os prédios do governo do Estado. No passado, ele advogara contra o uso de burcas por mulheres muçulmanas em espaços públicos.
Sua receita também inclui o desrespeito às estatísticas e aos fatos, assim como acontece com o presidente americano. Segundo Söder, a imigração está gerando uma onda de criminalidade na Alemanha — informação repetida publicamente por Trump e rechaçada, em seguida, por Merkel.
Os dados oficiais do governo, no entanto, mostram que a taxa de criminalidade do país está entre as mais baixas dos últimos 25 anos.
Ele também insiste que a crise imigratória na Alemanha está pior em 2018 do que nos anos anteriores, mesmo quando os registros mostram que a média mensal de pedidos de refúgio no país neste ano foi a menor desde 2013, quando o êxodo sírio não havia ainda começado. Foram 15.000 solicitações ao mês, em comparação com 62.000 em 2016.
Em meados de junho, em uma clara afronta a Merkel, Söder participou de um Conselho de Ministros em Linz, na Áustria, ao lado de uma das vozes mais estridentes em favor de políticas anti-imigração no bloco — o primeiro-ministro conservador austríaco, Sebastian Kurz, cujo governo tem o apoio de um partido fundado por ex-oficiais da SS nazista.
Os dois enfatizaram a importância de fechar a “fronteira externa” da União Europeia. Na ocasião, o governador da Baviera afirmou que a negativa do governo alemão em apoiar a medida representaria “um problema para a democracia”.
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