A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, pediu nesta segunda-feira (3) para os alemães se mobilizarem contra o “ódio” propagado pela extrema-direita do país. Os movimentos neonazistas protagonizaram novos episódios de violência no último final de semana em Chemnitz.
“O que nós infelizmente testemunhamos nos últimos dias, incluindo durante o fim de semana, essas marchas de extremistas de direita e neonazistas preparados para a violência, não têm nada a ver com o luto de um homem, mas visam a enviar uma mensagem de ódio contra estrangeiros, políticos, policiais e imprensa livre”, declarou Steffen Seibert, porta-voz de Merkel.
“Precisamos deixar claro: todo cidadão pode tomar a palavra e tomar uma posição contra a divisão de nosso país”, ressaltou.
Cerca de 50.000 alemães responderam ao chamado de Merkel e organizaram um show em Chemnitz contra o racismo e a xenofobia. O slogan do concerto será “somos mais numerosos”. Os moradores da cidade foram convidados pelas redes sociais a participar de uma “manifestação nas janelas”, adotando o mesmo slogan e pendurando mensagens de tolerância em suas varandas.
Para o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, essa mobilização continua modesta. “Infelizmente, nossa sociedade se acomodou de tal forma que precisamos nos movimentar”, disse. “Temos que deixar nossos sofás confortáveis ??e falar em voz alta”, acrescentou.
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Participantes da manifestação anti-imigrantes entram em confronto com a polícia em Chemnitz, Alemanha – 01/09/2018[/caption]
Participantes da manifestação anti-imigrantes entram em confronto com a polícia em Chemnitz, Alemanha – 01/09/2018 (Hannibal Hanschke/Reuters)
No sábado, organizações de extrema direita tomaram as ruas de Chemnitz, em passeatas que reuniram 8.000 pessoas, para denunciar a morte de um alemão de 35 anos na semana passada. A Justiça prendeu um iraquiano de 22 anos, solicitante de refúgio na Alemanha, e um suposto cúmplice sírio pelo crime.
Liderada pelo partido
Alternativa para a Alemanha (AfD), a extrema direita tem-se aproveitado desse assassinato para relançar suas críticas aos imigrantes e à política de abertura de Angela Merkel. O AfD torno-se a principal força de oposição na Câmara dos Deputados alemã.
A primeira-ministra é acusada de ter aumentado a insegurança no país ao autorizar o ingresso de mais de 1 milhão de refugiados entre 2015 e 2016.
O AfD vale-se há meses do caso do assassinato de uma adolescente de 15 anos em um supermercado na cidade de Kandel, perto da fronteira com a França, em 2017. Nesta segunda-feira, o ex-namorado da vítima, Abdul D., um solicitante de asilo que alega ser proveniente do Afeganistão, foi condenado a oito anos e meio de prisão pelo crime. Ele será expulso do país ao final de sua detenção.
Apesar do fim do julgamento, o prefeito da cidade de Kandel, Volker Poss, acredita que a mobilização do AfD local vá continuar. “O movimento de extrema direita já anunciou sua vontade de continuar a vir” para manifestar na cidade nos próximos meses, declarou Poss à rádio pública SWR.
Em Chemnitz, 18 pessoas ficaram feridas na noite de sábado, incluindo três policiais, por causa do protesto anti-imigrantes e de uma manifestação da esquerda, que reuniu 3.000 pessoas. Entre os feridos estão um jovem afegão de 20 anos espancado por homens mascarados, um militante do Partido Social-Democrata e uma equipe de televisão.
O chefe de governo da Saxônia, Michael Kretschmer, membro do partido de centro-direita de Angela Merkel, também pediu nesta segunda-feira “à maioria da população que dê voz” a Chemnitz.
Contrariamente do previsto, a mobilização anti-imigrantes está dando frutos para a extrema direita. De acordo com as últimas pesquisas, o AfD está crescendo nas intenções de voto para cerca de 16% e em terceiro lugar, logo atrás do Partido Social-Democrata, com apenas 17%.
*Veja