Acabaram-se de vez as piadas envolvendo o Zé Gotinha de Maracaju. Na tarde desta segunda-feira (10), um dos moradores locais que se mostrou arrependido pelas piadas que mexeram com a internet por quase todo o mês de agosto cumpriu a promessa e entregou ao Posto Central de Saúde da cidade a nova fantasia, que deve forçar de vez a aposentadoria da antiga.
A roupa, bem mais bonita e agradável, diga-se de passagem, custou R$ 440, valor pago sozinho pelo contador, de 45 anos, que prefere manter o anonimato.
"Apesar da brincadeira inicial fiquei comovido pelo ato de tentarem colocar o mascote da campanha e que infelizmente virou meme como acontece na internet... Por isso a doação, que com certeza vem apenas coroar o trabalho brilhante que foi a campanha de vacinação em Maracaju", disse ao Correio do Estado, logo após mandar entregar a nova roupa do folclórico personagem infantil ao posto.
A reportagem tentou conversar com funcionários do posto durante esta tarde, mas não obteve resposta. Por mensagem, uma delas mandou apenas agradecer o doador. É senso comum no local que o assunto rendeu o que tinha de render. E que a nova roupa será devidamente estreada na campanha de vacinação do ano que vem.
A imensa repercusão gerada na internet com a fantasia pouco convencional usada pelo Zé Gotinha em Maracaju no 'Dia D' da vacinação contra sarampo e poliomelite, no dia 18 de agosto, deixou o jovem que usou a roupa abalado com as piadas até certo ponto exagerada de alguns dos internautas, pouco preocupados com o gesto nobre por trás do ato, e estava com medo de ter a identidade revelada.
Horas depois, uma pessoas responsável pelo posto de saúde escreveu que se chegou a fazer o orçamento para uma nova fantasia, mas o custo de R$ 2 mil, considerado alto, inviabilizou o sonho do Zé Gotinha de Maracaju virar uma história que jamais viria a se tornar realidade.
Foram os ingredientes suficientes para comover alguns dos próprios internautas de Maracaju, que se sentiram com a consciência pesada diante do drama vivido pelo Zé Gotinha local. Além da doação do novo uniforme nesta segunda, empresários locais continuam arrecadando dinheiro para uma vaquinha afim de comprar outras fantasias novas para as demais unidades de sáude da cidade.
HISTÓRICO
Personagem criado pelo Ministério da Saúde em 1989, na então gestão José Sarney, Zé Gotinha foi desenvolvido para ter apelo junto ao público infantil, incentivar a vacinação no País e também enaltecer o fim da imunização apenas por seringa e agulha nos postos de saúde, fato que causava verdadeiro pânico nas crianças até aquele ano.
Com traços leves e delicados, a versão oficial teve os primeiros esboços feitos pelo estúdio do quadrinista Maurício de Sousa, pai da imortal Turma da Mônica das histórias em quadrinhos e desenhos. A campanha publicitária inaugural na televisão contou com a participação da apresentadora Xuxa, a então proclamada 'Rainha dos Baixinhos.'
Mas, com o passar do tempo e com a responsabilidade de divulgação das campanhas de vacinação repassadas às prefeituras, não demoraram a aparecer as versões, digamos, menos atrativas do icônico personagem, parte importante da infância de muitos brasileiros.
E neste ano coube a Maracaju figurar em sites e páginas de redes sociais pela internet afora como a responsável pelo pior 'cosplay' - como são chamadas pessoas fantasiadas com roupas de personagens da ficção - de Zé Gotinha.
As postagens feitas pela prefeitura em uma rede social, com fotos do Zé Gotinha no renderam compartilhamentos de todo o Brasil. E, lógico, muitas piadas.
"Isso parece fantasia de filme de terror", exclamavam alguns dos internautas, mantendo a fama de que a internet, óbvio, não perdoa nada. Integrante da Ku Klux Klan (organização norte-americana de cunho racista), fantasma, camisinha usada... A imaginação no mundo virtual é fértil.
Se fama repentina foi aprovada pelas autoridades maracajuenses, até agora não sabemos. Procurada, a prefeitura não respondeu o Correio do Estado até a publicação desta reportagem. A postagem acabou excluída, mas as fotos permaneciam ilustrando a nota oficial sobre o assunto. Os próprios funcionários, aliás, contaram que a roupa é velha e estava guardada há anos, "por ser muito feia", apesar de ressaltarem que "ninguém se assustou como foi falado." "As crianças estavam felizes e alegres", garantiu um deles.
Afinal de contas, como a funcionária do posto de saúde destacou, por bem ou por mal, o Zé Gotinha de Maracaju cumpriu seu objetivo. A meta da Secretaria Municipal da Saúde local é vacinar ao menos 95% das mais de 2.478 crianças do município até o fim de agosto. Entretanto, segundo dados da próprioa prefeitura, 100% das crianças fora vacinada até o início de setembro, sendo um dos primeiros (e únicos) municípios sul-mato-grossenses a atingir a marca.
*Correio do Estado
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