A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse nesta terça-feira (16) que a Arábia Saudita deve abrir mão da imunidade de suas dependências e autoridades diplomáticas para investigação do desaparecimento e possível assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Durante a noite, investigadores turcos entraram pela primeira vez no consulado saudita em Istambul, o último lugar onde Khashoggi foi visto antes de desaparecer no dia 2 de outubro, e realizaram buscas no local durante nove horas, segundo testemunhas.
Todas os andares do edifício e o jardim foram inspecionados, em uma ação onde cães policiais também foram utilizados e amostras do solo coletadas.
A polícia turca agora se prepara para fazer uma busca na residência do cônsul saudita em Istambul, depois que autoridades e jornais locais especularam que Khashoggi teria sido levado ao local depois de ser sequestrado no consulado.
Em comunicado, Bachelet elogiou o acesso de investigadores ao consultado, apesar de um atraso de duas semanas, e pediu que autoridades dos dois países garantam que “nenhum obstáculo adicional seja colocado no caminho de uma investigação rápida, minuciosa, efetiva, imparcial e transparente”.
“Em vista da seriedade da situação em torno do desaparecimento de Khashoggi, acredito que a inviolabilidade e a imunidade de lugares oficiais amparados pela Convenção de Viena de 1963 sobre relações consulares não deveriam ser aplicadas”.
“Sob a lei internacional, tanto o desaparecimento forçado como o assassinato extrajudicial são crimes sérios, e a imunidade não deveria ser utilizada para impedir investigações sobre o que aconteceu e quem é responsável. Duas semanas é muito tempo para que a cena de um crime não tenha sido submetida a uma investigação forense”, opinou Bachelet.
A alta comissária especificou que tanto a Arábia Saudita como a Turquia são Estados-parte da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos, Degradantes e que, como tais, estão obrigados a tomar todas as medidas para evitar tortura, desaparições forçadas e outras sérias violações, além de investigá-las e submeter à Justiça os seus autores.
Khashoggi, colunista do jornal The Washington Post e importante crítico do príncipe saudita Mohammed, desapareceu após entrar no consulado saudita na Turquia para conseguir documentos para se casar.
Amigos de Khashoggi e autoridades turcas têm certeza que o jornalista foi assassinado no consulado, mas Riad afirmou até agora que o repórter deixou o edifício pouco depois de entrar e nega ter responsabilidade em seu desaparecimento.
A emissora americana CNN, contudo, noticiou na segunda-feira que a Arábia Saudita estava se preparando para admitir a morte de Khashoggi durante um interrogatório malsucedido. A informação não foi confirmada oficialmente.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, se encontrou com o rei Salman, da Arábia Saudita, nesta terça-feira, para debater o desaparecimento do jornalista.
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