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Seca pode impedir escoamento em portos de MS

16/06/2021 às 08h26
Por: Tribuna Popular
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A crise hídrica, prevista para o período de junho a setembro, além de afetar o fornecimento de energia e a economia, deve inviabilizar o escoamento da produção de Mato Grosso do Sul por vias fluviais.  

No fim do mês passado, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu alerta de escassez de chuvas na região da Bacia do Paraná, incluindo Mato Grosso do Sul. 

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), há a possibilidade de a mesma situação impactar a Bacia do Paraguai.  

De acordo com dados técnicos, o nível das chuvas este ano registrou o pior índice dos últimos 10 anos. 

“Depois do alerta do governo federal, tivemos uma publicação da Agência Nacional de Águas (ANA) para que a gente conseguisse manter o uso múltiplo da água. A água não é utilizada somente para a geração de energia, ela tem uma série de usos múltiplos”, disse o titular da Semagro, Jaime Verruck.  

Ainda segundo o secretário, algumas cidades registraram precipitações nos últimos dias, mas a incidência deve ser insuficiente. 

“Em Porto Murtinho subiu o nível do rio nos últimos dias por causa das chuvas nos rios Aquidauana e Miranda. Mas a situação é crítica, vamos ter um impacto. A soja está sendo antecipada, o minério também está sendo antecipado o embarque e, a partir de outubro, teremos uma pressão em cima da saída, principalmente de minério, por meio de caminhões. O governo está monitorando toda essa questão de uso múltiplo da água, visando irrigação e abastecimento também”, detalhou Verruck ao Correio do Estado.

O gerente de Recursos Hídricos do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), Leonardo Sampaio, explica que, de acordo com a Marinha, quando o nível chega abaixo de 1,50 m em Ladário começa a prejudicar a navegação.  

“Hoje Ladário está com 1,54 m e não há previsão de grandes chuvas. Então, provavelmente vai baixar o nível e certamente a navegação vai ser prejudicada. Se não chover mais na Bacia do Paraguai, e a gente tem previsão de pouquíssimas chuvas daqui para a frente, a gente imagina que a partir de julho a hidrovia do Rio Paraguai já não esteja mais navegável, pelo menos pelas grandes embarcações”, avaliou Sampaio.

EXPORTAÇÕES

Conforme dados da Carta de Conjuntura do Setor Externo, produzida pela Semagro com dados do Ministério da Economia, enquanto o porto em Corumbá ampliou o envio de cargas, o de Porto Murtinho apresentou queda.

De janeiro a maio deste ano, o porto em Corumbá embarcou 1,424 milhão de toneladas, ante 1,393 milhão em 2020, crescimento de 2,22%. 

Em volume financeiro, o crescimento foi de 19,11%, saindo de US$ 78,941 milhões para US$ 94,031 milhões.

No mesmo período, Porto Murtinho registrou queda de 3,96% em relação ao ano anterior. Foram 202 mil toneladas enviadas em 2020, contra 194 mil toneladas neste ano. 

Em relação ao volume financeiro, houve ampliação de 21,59%, passando de US$ 64,453 milhões no ano passado para US$ 78,374 milhões neste ano.  

O terminal portuário da empresa FV Cereais, em Porto Murtinho, já estima um segundo semestre sem embarques.  

“A gente embarcou 240 mil toneladas neste ano e até agora não afetou a navegação, mas a gente sabe que daqui para a frente deve afetar sim. Inclusive, não estamos mais fazendo negócios por causa do rio. O Rio Paraguai ainda não está tão baixo, o problema é a navegabilidade no Rio Paraná. O Paraguai está baixo, mas ainda dá para navegar. Mas com certeza isso [a crise hídrica] vai atrapalhar. Teremos um segundo semestre praticamente sem embarques para nós”, afirmou o proprietário da empresa, Peter Ferter.

Conforme dados da Semagro, há indicações de seca mais intensa na costa leste. De acordo com o Sistema de Monitoramento Agro Meteorológico (Agritempo), desde 14 de junho, as regiões centro, norte e nordeste do Estado estão em situação de “necessidade” de chuva.

O prognóstico para o Estado apresenta irregularidade nas chuvas nos meses de junho, julho e agosto. 

Em junho, as chuvas serão bem esparsas em Mato Grosso do Sul, com maior acúmulo na região sul-fronteira e sudoeste – a prvisão de precipitações para o mês não passa de 130 mm. Em julho, demonstra-se maior concentração de chuva na região sul-fronteira: o acumulado máximo para o mês é previsto em 80 mm. 

Já em agosto as condições de precipitação pioram, e o acumulado máximo para o mês será de 60 mm.

“Na questão econômica, já orientamos que tanto as empresas de mineração quanto os produtores de grãos antecipem ao máximo seus embarques para exportação por meio dos portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho, a fim de aproveitar o período de melhor calado do Rio Paraguai”, finalizou Verruck.

SITUAÇÃO PARECIDA

No ano passado, o Estado vivenciou situação parecida. Com a falta de chuvas, os portos de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho suspenderam as operações em agosto em razão do baixo nível do Rio Paraguai, um dos menores em 22 anos, causado pela seca extrema que ocorreu na bacia.  

A paralisação da navegação comercial gerou impacto nas exportações de Mato Grosso do Sul. O Estado deixou de movimentar pelo menos 50% do volume previsto de cargas de grãos e minério de ferro pela hidrovia em 2020.

Com isso, outro problema deve ser enfrentado novamente: a sobrecarga do transporte rodoviário para o escoamento do minério em Corumbá.  

No ano passado, conforme noticiado pelo Correio do Estado, cerca de 200 bitrens cruzavam o Pantanal diariamente, levando 10 mil toneladas de minério para os portos de Santos. A movimentação na rodovia foi intensa, e o asfalto cedeu em alguns pontos.

Neste ano, o cenário não deve ser muito diferente: caso haja paralisação da hidrovia, o transporte rodoviário deve sofrer com o trânsito de carretas.

Segundo os dados divulgados na Carta de Conjuntura da Semagro, as exportações de minério de ferro aumentaram 25,94% neste ano. 

De janeiro a maio, foram enviadas 1,492 milhão de toneladas para o exterior, ante 1,185 milhão de toneladas no mesmo período de 2020.  

A movimentação financeira cresceu 79,21%, saindo de US$ 45,071 milhões no ano passado para US$ 80,772 milhões neste ano.

*Correio do Estado

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