A força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba afirma que o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran admitiu, em um e-mail, que participou de operações envolvendo 300 milhões de dólares do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas da empreiteira. Autor de acusações contra um amigo do juiz federal Sergio Moro e o modus operandi com que os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) negociam acordos de delação premiada, Tacla Duran foi alvo de um mandado de prisão na 36ª fase da Lava Jato, em novembro de 2016, e está foragido da Justiça brasileira. Ele chegou a ser preso na Espanha, mas conseguiu liberdade provisória e vive no país europeu, já que tem dupla nacionalidade.
A mensagem foi incluída pelo MPF na denúncia apresentada nesta sexta-feira contra Rodrigo Tacla Duran, o ex-gerente da Petrobras Simão Tuma e executivos da Odebrecht e da Mendes Júnior. A acusação trata de supostos pagamentos de 18,6 milhões de reais em propina a Tuma a partir de um contrato de 1,8 bilhão de reais do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), uma das obras investigadas na Lava Jato.
O e-mail que conteria a “confissão” de Tacla Duran foi acessado pelos procuradores da Lava Jato dentro do Drousys, sistema de informática para comunicação entre executivos do setor de propinas da Odebrecht. Conforme o MPF, o ex-advogado da empreiteira utilizava os codinomes “Blackz”, “Vampeta” e “Vampe” nas mensagens. Os demais operadores do sistema de pagamentos paralelos da empreiteira também tinham apelidos. O executivo Fernando Migliaccio, um dos chefes do setor e delator, por exemplo, era conhecido como “Waterloo”.
No dia 31 de janeiro de 2013, o endereço “blackz@sectrial.com”, que o MPF atribui a Tacla Duran, disse a “waterloo@drousys.com”, utilizado por Migliaccio, e a “tushio@drousys.com”, de Luiz Eduardo Soares, outro executivo do departamento de propinas: “operei com vocês + de USD$ 300.000.000,00 e acredito eu que nunca trouxe problemas ou aborrecimento de qualquer natureza a vocês”.
Veja abaixo o trecho da denúncia que cita o e-mail.
(Ministério Público Federal/Reprodução)
No relatório de análise do material encontrado no sistema Drousys, o MPF afirma que “Rodrigo Tacla Duran, ou BLACKZ, reforça o ambiente escuso do contexto, no qual as pessoas são indicadas pelos seus codinomes, relações não contratuais, e realização de operações financeiras fora do sistema financeiro, como câmbio, cheques, empréstimos ou adiantamentos, entre outros”.
Já na denúncia formal, que compreende o relatório e será analisada por Sergio Moro, os procuradores sustentam que “em uma espécie de desabafo, encaminhou mensagem eletrônica a funcionários da empreiteira, dentre eles Luiz Eduardo da Rocha Soares, na qual afirmou que teria operacionalizado, junto ao Setor de Operações Estruturadas, mais de US$ 300.000.000,00. Destacou o operador na oportunidade, ainda, que ‘levava a sério’ o negócio entre eles mantido, destacando os sentimentos de lealdade e de confiança mútua que carregava consigo quanto a essas atividades de natureza ilícita”. “Verifica-se que Rodrigo Tacla Duran se dedicava profissionalmente à prática de lavagem de capitais”, concluem os investigadores.
A acusação apresentada a Moro diz que, no caso do suposto repasse de 18,6 milhões de reais em propina ao ex-gerente da Petrobras Simão Tuma, Tacla Duran atuou como intermediário da Mendes Júnior. O advogado teria emitido 25,5 milhões de reais em notas fiscais fictícias de seu escritório, o Tacla Duran Sociedade de Advogados, para receber os valores da empreiteira e repassá-los ao ex-executivo da estatal petrolífera.
Com base nos depoimentos de delatores da Odebrecht, o MPF afirma que, além das notas fiscais frias, Tacla Duran também operacionalizava pagamentos ilícitos a partir de 12 contas mantidas por ele no exterior.
Caso Sergio Moro aceite a denúncia dos procuradores, este será o segundo processo em que Rodrigo Tacla Duran será julgado na Lava Jato.
Acusações contra Miller e amigo de Moro
Em depoimento por videoconferência à CPMI da JBS, há duas semanas, o ex-advogado da Odebrecht declarou que são falsos os extratos obtidos a partir do sistema Drousys, incluindo documentos utilizados pela Procuradoria-Geral da República nas denúncias contra o presidente Michel Temer (PMDB).
“Esses extratos são falsos e já foram periciados. No caso da denúncia do presidente Michel Temer, esses extratos que foram aportados, eles demonstram que o sistema foi manipulado. A partir do momento em que o sistema foi manipulado antes, durante e depois do bloqueio, as provas, no meu entender, são viciadas. Todas as provas que saem daquele sistema, a partir daí, são viciadas”, afirmou.
Na CPMI, ele também relatou que o ex-procurador da República Marcello Miller lhe propôs um acordo de delação premiada “à la carte”. Miller foi o pivô da anulação dos acordos de delação premiada de executivos do Grupo J&F, incluindo os sócios da empresa Joesley Batista e Wesley Batista. “Quando esteve comigo, Marcello Miller começou a listar parlamentares. Ele começava a falar nomes de políticos, autoridades estatais: ‘Qual deles o senhor conhece? Qual o senhor pode entregar?’”, disse.
Rodrigo Tacla Durán ainda acusa o advogado Carlos Zucolotto, padrinho de casamento de Sergio Moro, de ter intermediado negociações paralelas entre ele e a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba por um acordo de delação premiada. Conforme a colunista Mônica Bergamo, do jornal
Folha de S. Paulo, Tacla Durán apresentou à CPMI da JBS imagens de mensagens trocadas com Zucolotto no aplicativo Wickr, que apaga as conversas depois de determinado tempo.
No suposto diálogo com Zucolotto, o advogado relata que os procuradores estipularam multa de 15 milhões de dólares a ele nas negociações da delação. O advogado teria afirmado que articularia para que “DD” entrasse nas tratativas e o valor da multa fosse reduzido. Caso obtivesse sucesso, Carlos Zucolotto pediu o pagamento de um terço dos 15 milhões de reais em honorários, a ser feito “por fora”.
Ao jornal, Zucolotto negou participação nas negociações. Por meio de nota, Sergio Moro afirmou que o advogado é “sério e competente” e que é “lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça”.
*Veja