A Justiça Federal deu início nesta segunda-feira aos depoimentos testemunhas de defesa de dezesseis réus em uma ação penal da Operação Zelotes, em Brasília (DF). Durante a audiência, dois dos réus presos, os lobistas Alexandre Paes dos Santos e Mauro Marcondes bateram boca, em tom ríspido, com procurador da República Frederico Paiva.
Paiva explicava detalhes da denúncia a jornalistas, no intervalo dos depoimentos, quando percebeu que Alexandre Paes dos Santos e Mauro Marcondes assistiam à conversa. "Tem plateia agora?", disse o procurador. "Nós podemos falar com a imprensa também", rebateu Marcondes. "Estou olhando porque eu não sabia quem era o senhor, só tinha visto no processo o seu nome. Então estou vendo agora pela primeira vez", emendou Alexandre Paes dos Santos. "E gostou?", perguntou o procurador. "É bom saber quem me acusa, né?", disse o Paes dos Santos antes de deixar a sala de audiências escoltado.
Pela manhã, quatro testemunhas depuseram: José Jesus Alexandre da Silva, Vicente Alessi, Andrea Cristina de Jesus Oliveira Gozzeto e Maura Lúcia Montella de Carvalho. Os advogados tentam argumentar na frente do juiz da 10ª Vara Federal, Vallisney de Souza Oliveira, que o Ministério Público Federal tenta criminalizar a atividade de lobby. Mauro Marcondes disse informalmente a jornalistas que a ação é um retrocesso e que o lobby é "importante para a democracia".
Professora de UFRJ e mulher de Alexandre Paes dos Santos, Maura Lúcia fez uma dobradinha com o advogado explicando conceitos econômicos de Adam Smith, David Ricardo e John Maynard Keynes e a atividade de lobby. "Esse processo está sendo um desserviço à área econômica e acadêmica, uma agressão", disse ela. Ela negou que o marido tivesse uma empresa de fachada e afirmou que "lobistas são altamente especializados e disputados por todas as empresas". "Por isso os contratos de pagamento são tão altos. Lei da oferta e da procura. "As cifras são muito altas para fidelizar o profissional, porque ele trabalha por um ano e fica mais vinte sem trabalhar para os concorrentes. Só de outro setor. Ele ganha pelo trabalho e pelo não-trabalho", disse ela.
"Essa tese não tem nenhuma comprovação empírica. Ninguém passa 70 milhões de reais para alguém para fazer reunião de segundo escalão em ministério. E nem houve reuniões de segundo escalão", disse Paiva, em relação do dinheiro repassado para o escritório de Marcondes e distribuído como propina, segundo o Ministério Público. "Há várias assessorias parlamentares em Brasília funcionando, tem muita gente trabalhando com isso de maneira lícita e em nenhum momento a denúncia confunde isso."
Para o procurador, os advogados arrolaram testemunhas sem ligação com os fatos e que não poderão trazer fatos novos ao processo. "Nossa estratégia é não entrar na provocação dos advogados", disse Paiva.
A ação aponta tráfico de influência, advocacia administrativa e pagamentos de propina por empresas em troca de benefícios no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf). Uma das testemunhas que devem depor nesta segunda-feira é o ex-ministro Gilberto Carvalho (PT). Carvalho já teve a quebra de sigilo autorizada pela Justiça, mas ainda não houve análise. Inquéritos paralelos investigam o envolvimento de políticos, pagamentos para aprovação de medidas provisórias no governo Lula e também pagamentos a Luís Claúdio Lula da Silva, filho do ex-presidente petista.
Além de Alexandre Paes dos Santos e Mauro Marcondes, também estão presos os réus José Ricardo da Silva, Cristina Mautoni Marcondes Machado, Francisco Mirto Florência da Silva e Halysson Carvalho Silva.
(Fonte: Veja.com)
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