O empresário Augusto Ribeiro Mendonça, delator da Operação Lava Jato que confessou ter ocultado propina em doações oficiais ao PT, manteve 85 contatos telefônicos com o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015 acusado de ser operador do partido no esquema de corrupção na Petrobras. A informação faz parte da primeira análise produzida pela força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) com base na quebra do sigilo telefônico da sede nacional do PT em São Paulo e dos números usados por Vaccari, entre julho de 2010 e julho de 2015, alcançando três campanhas eleitorais, duas presidenciais e uma municipal.
O mapeamento indica também 144 contatos telefônicos entre os números usados por Vaccari e Paulo Roberto Salvador, diretor da Gráfica Atitude, e outras 38 trocas de mensagens. A empresa foi usada, segundo a força-tarefa, para ocultar propina desviada da Petrobras e repassada ao PT.
"Foram identificados 144 chamadas entre João Vaccari e Paulo Salvador", informa o relatório assinado por dois analistas do MPF, de 30 de novembro de 2015, anexados em janeiro à ação penal, sob sigilo. "Ainda evidenciaram-se 85 chamadas entre o terminal (11) 98136-XXXX atribuído a Augusto Mendonça de acordo com o Termo de Colaboração nº 7 e o terminal (11) 99325-XXXX do Partido dos Trabalhadores Diretório Nacional PT, atribuído a João Vaccari."
O sigilo telefônico do PT foi quebrado pelo juiz federal Sergio Moro, da Lava Jato, em novembro de 2015. A medida alcançou pelo menos seis números de uso de Vaccari. A abertura de dados alcança o período de 2010 a 2014.
A força-tarefa da Operação Lava Jato aponta o uso da legenda como forma de ocultar dinheiro desviado da estatal por meio de contribuições e doações de campanha. Moro atendeu um pedido do MPF, que acusa formalmente Vaccari em uma ação penal pelo uso da gráfica ligada ao partido para supostamente lavar dinheiro da Petrobras.
"A medida pretendida é adequada e necessária para possibilitar a identificação dos registros das chamadas originadas e recebidas pelos terminais-alvos da investigação e seus respectivos interlocutores, bem como a localização geográfica em que se encontravam os alvos no momento das comunicações de interesse da investigação criminal, por meio de antenas que captaram o sinal", sustentou o MPF no pedido.
A quebra do sigilo dos telefones usados por Vaccari - seu celular e os fixos na sede do Diretório Nacional do PT -, integram ação penal decorrente do processo em que Moro condenou o ex-tesoureiro e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, indicado pela legenda para a diretoria de Serviços da estatal. Os dois são acusados pelo desvios de recursos de um contrato de 2,2 bilhões de reais na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, e pelo repasse de 4,3 milhões de reais ao PT entre 2008 e 2012 por meio de doações registradas.
A sentença foi enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo juiz da Lava Jato, no início do mês, como prova para instruir as investigações sobre supostas irregularidades na campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2014.
O Relatório de Informação 121/2015 do MPF é a primeira análise feita no resultado da quebra de sigilo telefônico do PT. O documento reforça a delação de Augusto Mendonça, dono da Setal Óleo e Gás, que disse ter ocultado propina em doações oficiais ao PT e pagamentos de publicidade. Segundo Augusto Mendonça, Vaccari era um de seus contatos. Além dos repasses diretos ao PT, o delator afirmou que Vaccari indicou a Gráfica Atitude para o pagamento de anúncios, que segundo ele, foram custeados com dinheiro de propina.
(Com Estadão Conteúdo)
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