A Polícia Federal solicitou à Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República que informe pagamentos feitos à Editora Gráfica Atitude, direta ou indiretamente (por meio de agencias de publicidade), entre 2008 e 2014. Responsável pela publicação da Revista do Brasil, a editora é alvo da Operação Lava Jato, dentro das investigações de corrupção e fraudes no setor de comunicação na Petrobras e em outras áreas do governo federal.
O ofício que solicita informações do dia 16 de janeiro foi assinada pelo delegado Cesar de Freitas Xavier, da equipe da Lava Jato. O delegado quer saber quem foram os responsáveis pela escolha "para veicular publicidade da Secom (ou paga pela Secom, conforme dados obtidos pela Receita Federal do Brasil)" na revista. "Bem como os critérios adotados" pela Secom para "aceitar o cadastro da 'Revista do Brasil' como apta a receber publicidade das empresas e órgãos do governo federal."
Foi esse cadastro que liberou a Petrobras para incluir a Revista do Brasil na lista de publicações aptas a receberem os anúncios da estatal. A PF foi informada pela estatal que entre 2004 e 2015 repassou 676.000 reais, por intermédio de duas das agências contratadas, uma delas a Heads Propaganda Ltda, para a gráfica.
É uma pequena parte dos valores movimentados pela Editora Gráfica Atitude. Entre 2010 e 2015 a conta na firma movimentou 67,7 milhões de reais, segundo Relatório de Inteligência Financeira. Foram créditos de 33,8 milhões de reais, 7,5 milhões de reais depositados em terminais de autoatendimento.
Paulo Salvador, responsável pela Editora Gráfica Atitude, afirmou que não há irregularidades nos pagamentos. "Não tenho circulação em moeda, é tudo nominal, não remunero diretores, não tenho despesa que pudesse apontar desvio, é tudo voltado para pagar trabalhadores e os insumos", disse. Segundo ele, o processo de escolha da revista para publicação é interno das agências, das empresas. "Como a Petrobras respondeu, tinha interesse em circular a sua publicidade no nosso leitor".
"A Petrobras realiza suas veiculações publicitárias apenas em veículos relacionados no Cadastro de Veículos de Divulgação (MidiaCad) da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom)", informou a estatal em resposta à polícia, no ano passado. "No caso da Editora Gráfica Atitude, foram veiculados anúncios institucionais e mercadológicos na Revista do Brasil, veículos cadastrado no Midiacad no segmento de revistas de interesse geral. Essas veiculações foram autorizadas através das agências de publicidade da Petrobras com contrato vigente à época em que foram realizadas", informou a estatal.
Nos questionamentos dirigidos ao órgão de comunicação da Presidência, o delegado quer saber ainda se a tiragem declarada pela Editora Gráfica Atitude em seu kit de divulgação dos trabalhos foi critério para essa inclusão no cadastro. No kit está declarada a tiragem de 360.000 exemplares. O delegado perguntou ainda se a Secom "leva em conta apenas a tiragem declarada, ou se baseia em auditorias ou sistemas de verificação do numero de tiragens". Paulo Salvador afirma que a Revista do Brasil tem tiragem de 360.000, como consta no kit da empresa, e essa circulação foi atestada por uma auditoria.
A Gráfica Atitude é mais que uma prestadora de serviços de longa relação com o PT. Ela nasceu de dois sindicatos cuja as histórias se unem com a criação do partido: o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e o Sindicato dos Bancários de São Paulo. O primeiro, de onde saiu Lula. O segundo, origem de João Vaccari e do tríplex que teria sido reformado para o ex-presidente pela OAS.
A Lava Jato quer saber agora se mais recursos transitaram por outras estatais e órgãos do governo federal. O Banco do Brasil é um dos órgãos que os investigadores já sabem que pediam publicações na revista, publicada pela Editora Gráfica Atitude.
A Secom, informou, por meio de nota que são as agências que contratam a Editora Gráfica Atitude. O órgão informou que respondeu à PF que "no período de 2008 a 2014, não manteve contrato com a Editora Gráfica Atitude Ltda".
A Editora Gráfica Atitude já foi punida juntamente com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) por fazerem propaganda eleitoral ilícita em favor da então candidata Dilma Rousseff, e contrária a José Serra, candidato do PSDB em 2010.
Os ministros do TSE entenderam que tanto a CUT como a gráfica desrespeitaram a legislação eleitoral ao promoverem a candidatura de Dilma em jornal bancado pela central e em revista produzida pela editora, respectivamente em setembro e outubro de 2010.
(Com Estadão Conteúdo)
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