Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), e Carlos Arthur Nuzman, chefe do Comitê Organizador da Rio-2016, tentaram amenizar nesta quarta-feira suas preocupações sobre a preparação para os Jogos Olímpicos do Rio. No entanto, documentos internos da entidade, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, avaliaram que o Brasil vive "crise profunda" e enumeraram uma série de problemas na organização da Olimpíada.
Os principais entraves estão relacionados com as instalações, como o Engenhão, fornecimento elétrico "de alto risco" e os eventos marcados para o Complexo Olímpico de Deodoro. Em um relatório de suas atividades, Bach registrou um encontro com comitês olímpicos europeus em que diz que convidou o grupo "a trabalhar em solidariedade perfeita com os organizadores, diante da crise profunda que o Brasil enfrenta".
Os documentos foram usados para cobranças na reunião de quarta-feira entre o Comitê Executivo do COI e os delegados do Rio de Janeiro. No "informe sobre as atividades administrativas do COI", a entidade enumera os problemas que enfrenta no Rio, a cinco meses do início do evento.
Numa lista de "preocupações relacionadas com os esportes", o COI aponta deficiências na "finalização das instalações para remo e canoagem (incluindo as arquibancadas temporárias na Lagoa Rodrigo de Freitas), polo aquático e saltos ornamentais, ciclismo, vôlei, equitação e o estádio olímpico". O documento datado do dia 29 de fevereiro, porém, não detalha quais os problemas em cada um dos pontos mencionados. O relatório é de responsabilidade do diretor-geral do COI, o belga Christophe de Kepper.
O Departamento de Tecnologia e de Informação do COI alerta que "os prazos para garantir a alimentação elétrica temporária a partir de julho de 2016 estão muito apertados", o que é agravado pelo corte de recursos e sugere "acompanhamento de perto pelo COI".
Depois da reunião em Lausanne nesta quarta entre os organizadores brasileiros, COI e 28 federações esportivas, as entidades envolvidas pediram que fossem consultadas sobre os cortes que os brasileiros teriam de fazer. O documento indica que o impacto sobre o conforto dos atletas era uma preocupação, ainda que as federações tenham "concordado de uma forma geral em adotar um tom de flexibilização em suas exigências".
Segundo o informe, oito federações ainda se reuniram no mesmo dia para tratar especificamente da situação do Complexo de Deodoro. O consenso do encontro foi a preocupação relacionada com o bem-estar dos espectadores. Foi criada uma força-tarefa para garantir que atletas e espectadores tenham níveis de conforto em linha com os padrões dos Jogos Olímpicos.
Em Deodoro, serão disputadas competições de hipismo, ciclismo (BMX e mountain bike), pentatlo moderno, tiro esportivo, canoagem slalom e hóquei sobre grama. Para as federações, porém, a preocupação é que o local não esteja no padrão do COI para eventos de nível internacional.
O orçamento total da Olimpíada, por enquanto, está em 7,4 bilhões de reais. Para manter o valor estipulado, 12% dos custos inicialmente programados foram dispensados, o que significa um corte de 900 milhões no orçamento.
Nuzman nem confirmou nem negou a informação. "Somos muito transparentes. Estamos em um caminho muito bom. Não são cortes. Vamos organizar tudo com um orçamento mais equilibrado. Estamos fazendo o que nós prometemos", disse Nuzman. Ele afirmou ainda que os Jogos não serão prejudicados. "Os atletas terão tudo. Não há cortes que afetem os Jogos, os locais de eventos e atletas".
Nuzman admitiu, porém, que a crise econômica vem afetando a organização. "Temos uma situação pior (do que em 2009, quando o Rio foi escolhido). Mas temos os pés no chão. Não só no Brasil, mas em todo o mundo, estamos em uma situação completamente diferente."
Já Andrada admitiu "cortes impressionantes nos Jogos", inclusive em construções temporárias e operações das instalações.
(com Estadão Conteúdo)
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