Seguindo a tática dos discursos para inflamar a militância petista, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta segunda-feira, durante a entrega de unidades do Minha Casa Minha Vida em Caxias do Sul (RS), que a oposição tem o direito de divergir das decisões do governo, mas não pode sistematicamente dividir o Brasil. Ela também defendeu o ex-presidente Lula e criticou sua condução coercitiva, na última sexta-feira, para prestar esclarecimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público. O depoimento de Lula fez parte da 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Operação Aletheia, que também efetuou buscas e apreensões em imóveis relacionados ao petista, como o apartamento onde o ex-presidente mora em São Bernardo do Campos e o Instituto Lula.
Dilma se mostrou indignada com a condução coercitiva de seu padrinho político, dizendo não fazer "o menor sentido" que Lula tenha sido conduzido "sob vara" para depor. Utilizando os mesmos argumentos empregados pelo ex-presidente na sexta-feira, em pronunciamento na sede nacional do PT, Dilma disse que Lula "jamais se recusou a depor" e ressaltou que "justiça seja feita, Lula nunca se julgou melhor do que ninguém". Também como Lula, ela ignorou as seguidas tentativas de Lula de driblar o Ministério Público de São Paulo - e calou sobre as graves acusações que pesam contra seu padrinho.
Sob aplausos da plateia na cerimônia, a presidente ironizou a explicação dada pela força-tarefa da Operação Lava Jato, comandada pelo juiz Sergio Moro, para justificar a condução coercitiva do ex-presidente. "Não cabe alegar que Lula estava sob proteção, é necessário saber se ele queria ser protegido. Tem certo tipo de proteção que é muito estranho (sic)", disse.
Em sua fala, Dilma criticou também o vazamento de informações sobre inquéritos judiciais - principal argumento petista para fugir das explicações quando delações atingem o partido. "Com vazamentos, há estrago no julgamento", afirmou a presidente. A petista também acusou a oposição de "dividir o país" e disse que o governo tem de buscar a unidade do Brasil, independentemente de questões ideológicas ou outras crenças. "Um governo tem de querer a unidade dos brasileiros, ele governa para todos, não parte ou pedaço da população. A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode sistematicamente ficar dividindo o país", afirmou.
Crise econômica - A presidente reconheceu que o Brasil passa por um momento de dificuldades econômicas, mas disse que parte delas se deve à sistemática crise política, provocada "por aqueles inconformados que perderam as eleições" e que querem antecipar a eleição presidencial de 2018. "Tem certo tipo de luta política que cria um problema sistemático, não só para a política em si, mas para a economia, a criação de emprego, o crescimento das empresas", declarou a presidente.
Segundo Dilma, a parte dos problemas econômicos que não advém da crise política está sendo enfrentada pelo governo com o ajuste fiscal. "Muita gente me pergunta: 'Por que vocês estão fazendo ajustes?' A gente faz ajuste porque é como em uma casa: sempre que precisa, que a receita cai um pouco, a gente ajusta", disse.
Citando o Minha Casa Minha Vida, Dilma afirmou que o governo tem de fazer ajustes e olhar o que deseja preservar dos cortes. Além de Caxias do Sul, foram entregues hoje moradias também nas cidades de Sobral (CE), Três Lagoas (MS), Jundiaí (SP) e Paracatu (MG), totalizando 2.434 unidades.
(com Estadão Conteúdo)
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