O depoimento dos réus da Operação Zelotes foi marcado por nova discussão ríspida nesta quarta-feira entre o procurador da República Frederico Paiva e advogados de defesa dos dezesseis acusados. O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, ameaçou usar o "poder de polícia" para, em medida extrema, retirar da audiência ou cortar o microfone da acusação e da defesa, caso uma das partes não respeite o direito da palavra e atropele a fala da outra.
"Eu não queria chegar a esse extremo, mas eu tenho o chamado poder de polícia para retirar alguém", disse o magistrado. "Eu já fui mais rígido, mas deixo todos se manifestarem, até o réu hoje bateu na mesa, mas entendo que é o momento dele."
Os desentendimentos começaram no fim da manhã, quando se encerrava o depoimento de Eduardo Valadão, que era braço-direito do lobista José Ricardo da Silva, um dos principais acusados de formar a quadrilha para comprar medidas provisórias em prol da indústria automobilística, por meio do pagamento de propina no governo e no Congresso. A empresa de consultoria deles, a SGR, recebeu 4,7 milhões de reais da MMC (Mitsubishi), conforme o Ministério Público. Os advogados de Valadão protestaram contra uma tentativa do procurador de "intimidar" o réu, que se negava a responder a perguntas dele.
"Ninguém está aqui para ver risadinha de um bobo de um procurador", disse com dedo em riste o advogado Roberto Podval.
"Eles estão muito ensaiadinhos, combinados para os réus não responderem", reclamou o procurador. "O doutor Roberto Podval está muito acostumado a fazer júri e essa teatralidade faz parte da Zelotes. Se os quinze advogados começarem a falar ao mesmo tempo o Ministério Público vai ter que limitar as suas observações."
Na retomada dos depoimentos, o advogado Roberto Podval pediu desculpas ao juiz e disse que pode até apresentar medidas administrativas contra o procurador da República. Frederico Paiva se desculpou por descontrole e por às vezes "falar o que pensa" e também afirmou que poderia acionar a OAB contra os advogados, a quem acusou de deboche.
Os lobistas presos têm se negado, por orientação dos defensores, a responder aos questionamentos do Ministério Público Federal, com base no direito ao silêncio.
Valadão, que está preso, negou ter cometido crimes durante sua oitiva, enquanto respondia ao juiz e aos advogados, e ainda reclamou da qualidade das refeições servidas no Complexo da Papuda. "É uma humilhação", disse. "Hoje paga-se 28 reais por uma comida que não vale nem 4 reais."
Valadão afirmou durante o depoimento que não tem contato com políticos e que "não tem capacidade de influenciar agente público a dar favorecimento" na edição de medidas provisórias. Envolvido no e-mail apreendido pela força-tarefa da Zelotes em que são citados "repasses e acertos" a parlamentares, Valadão repetiu a versão de seu ex-chefe José Ricardo da Silva, segundo quem os pagamentos eram uma comissão de 20% ao ex-deputado José Janene (PP), por indicação de serviços e clientes. Para o Ministério Público, a conversa indica pagamento de propina a políticos.
(Fonte: Veja.com)
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