O senador Telmário Mota (PDT-RR), relator do processo de quebra de decoro aberto contra o ex-líder do governo Delcídio do Amaral (suspenso do PT-MS), defendeu nesta quarta-feira que o Conselho de Ética do Senado Federal abra formalmente processo de cassação contra o parlamentar. Segundo Mota, existem indícios claros de que Delcídio praticou crimes ao ser flagrado, em conversa gravada por Bernardo Cerveró, discutindo meio de fuga e promessas de pagamento ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. A atuação de Delcídio tinha por objetivo, segundo o Ministério Público, impedir que o ex-dirigente da estatal fechasse acordo de delação premiada. Ao final, tanto Cerveró quanto o próprio Delcídio, preso por mais de 80 dias e solto por ordem da Justiça, se tornaram delatores e detalharam como funcionava o esquema criminoso instalado na petroleira.
A delação premiada de Delcídio do Amaral, após ele próprio ter assegurado, reservadamente, a alguns senadores que não tinha fechado um acordo com a Justiça, deixou o governo e senadores em clima de pânico. Hoje no Conselho de Ética, não houve votação do relatório preliminar de Telmário Mota. O tema será retomado na semana que vem.
"Não há preliminares que obstem o prosseguimento da apuração. A defesa não trouxe argumentos fáticos que permitam o arquivamento imediato da representação. O exame superficial dos diálogos mostra indícios de crime e consequente quebra de decoro. Impõe-se a admissão da representação", disse o relator. Já existe pedido para que a delação premiada de Delcídio seja anexada ao processo de cassação assim que for confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Em dezembro, PPS e Rede ingressaram no Conselho de Ética com representação contra Delcídio. Gravações feitas pelo filho de Cerveró, Bernardo, mostram Delcídio negociando o pagamento de 50.000 reais mensais à família do ex-dirigente e até a fuga do ex-diretor para fora do país. Paralelamente, investigadores atribuem ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, o papel de bancar a mesada à família de Cerveró e pagar outros 4 milhões de reais ao advogado Edson Ribeiro, que atuava na defesa do ex-diretor e trabalhava para impedir a delação premiada.
Os depoimentos do senador em colaboração com a Justiça, porém, apresentaram uma nova versão para os pagamentos. Segundo o senador, partiu do ex-presidente Lula, também investigado no petrolão, a ordem para comprar o silêncio de Cerveró. Segundo Delcídio, Lula tinha pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras e agiu pessoalmente para barrar as investigações. Também em delação, o senador atribuiu à presidente Dilma Rousseff pleno conhecimento dos problemas da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, transação permeada pelo pagamento de propinas, além de ter tentado aparelhar o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para garantir a liberdade de grandes empreiteiros presos por ordem do juiz Sergio Moro.
(Fonte: Veja.com)
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