Depois de ficar um ano e meio repousando em uma gaveta na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, a nomeação de Marianna Fux - filha do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal - para o cargo de desembargadora saiu rápida como um relâmpago. Em uma semana, ela foi selecionada de uma lista de seis nomes, passou em sabatina de menos de dois minutos (ouça o áudio abaixo) e pronto: aos 35 anos, ganhou na quinta, dia 10, a vaga no Tribunal de Justiça do Rio. O caso, no entanto, não é simples. A candidatura de Marianna foi cercada de polêmica: ela não comprovou experiência, não cumpriu requisitos básicos, beneficiou-se do prestígio do pai e, comenta-se nos bastidores, tirou partido de uma providencial reforma no conselho da OAB-RJ. "Foi um total desrespeito às regras. Nomearam alguém que não atende às exigências de qualificação para o cargo", afirma o advogado Álvaro Quintão, membro do conselho que lidera um grupo empenhado em acionar medidas judiciais para impugnar a nomeação.
Pelo regimento da OAB, que faz a peneira, quem almeja o posto de desembargador tem que apresentar comprovação de experiência profissional na forma de cinco petições com sua assinatura por ano, nos últimos dez anos. Em vez disso, Marianna primeiro apresentou uma carta do advogado Sérgio Bermudes, seu chefe no único emprego que exerceu desde que se formou e amigo de longa data do ministro Fux, atestando que atuava em seu escritório havia uma década. Não adiantou. O conselho que examina as candidaturas insistiu nas cinco petições por ano e Marianna apresentou o que tinha. Problema: não cumpria o exigido em pelo menos cinco anos. De novo, o salvador Bermudes entrou em campo alegando que ela esteve muito ocupada o ajudando a organizar um livro de comentários sobre o Código de Processo Civil. A Veja.com, Bermudes insistiu: "Eu atualizei 6 404 notas. Era preciso que alguém as pusesse em ordem. Foi o que ela fez". Infelizmente, o escritório não guarda registro deste serviço prestado. Diante da documentação falha, trinta conselheiros pediram a impugnação da candidatura e o caso ficou adormecido, sem desfecho.
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