Depois da desastrada compra da refinaria de Pasadena, no Texas, empreendimento que resultou em prejuízo de quase 800 milhões de dólares à Petrobras, a hoje presidente e então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff participou das conversas para alocar o ex-diretor da área internacional da petroleira, Nestor Cerveró, na BR Distribuidora. As revelações constam de acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral e desmentem as afirmações da petista de que Cerveró não foi indicação sua e nem seria uma pessoa de sua relação.
Dilma já havia atribuído a Cerveró a autoria de um "parecer falho" que teria induzido o Conselho de Administração da Petrobras a aprovar a aquisição da unidade de refino no Texas. A petista sempre tentou se descolar do ex-dirigente, apontado pelo Ministério Público como um dos responsáveis por atuar no esquema de pagamento de propina a políticos do PMDB.
Segundo relato de Delcídio, ele recebeu um telefonema da então ministra Dilma Rousseff afirmando que Cerveró seria indicado para a Diretoria-financeira da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Na avaliação do parlamentar, isso demonstra que "Dilma Rousseff teve conhecimento e participação na nomeação de Nestor Cerveró para a BR Distribuidora".
"Diferentemente do que afirmou Dilma Rousseff em outras oportunidades, a indicação de Nestor Cerveró para a Diretoria Financeira da BR Distribuidora contou efetivamente com a sua participação. Delcídio do Amaral tem conhecimento desta ingerência, tendo em vista que, no dia da aprovação [do nome de Cerveró] pelo Conselho, estava na Bahia e recebeu Iigações de Dilma", diz trecho da delação premiada.
Conforme a versão apresentada pelo ex-líder do governo no Senado, Nestor Cerveró foi alocado na BR como um "prêmio de consolação" depois de ter atuado na transação de afretamento do navio-sonda Vitoria 10000. A operação foi permeada por repasses de propina e pela simulação de um empréstimo para camuflar o envio de dinheiro sujo para o Partido dos Trabalhadores. Segundo os investigadores da Lava Jato, o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, integrou um esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin pela Petrobras para operação do navio sonda Vitoria 10000. A transação só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da Petrobras e ao PT. A exemplo do escândalo do mensalão, o pagamento foi camuflado a partir da simulação de um empréstimo no valor de 12,17 milhões de reais do Banco Schahin, com a contratação indevida da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda Vitoria 10000.
Às autoridades, Delcídio disse que a indicação de Cerveró para a BR Distribuidora pode ter sido também um "cala boca" para o ex-dirigente não revelar detalhes do esquema criminoso que envolveu o afretamento do navio-sonda. O silêncio de Nestor Cerveró era crucial porque, segundo o delator, "a operação da sonda Vitoria 10000 foi feita com a finalidade de arrecadar fundos e valores para pagamento de dívida de campanha do PT, do caso de Santo André (Prefeito Celso Daniel) e a campanha eleitoral de Prefeito de Campinas, do Dr. Hélio".
Delator da Operação Lava Jato, o ex-diretor Nestor Cerveró já havia afirmado aos investigadores que, anos depois, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) disse a ele por volta de setembro de 2013 que a presidente Dilma Rousseff lhe garantiu que a presidência e as diretorias da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, estavam "à disposição" do parlamentar. Aliado do desgastado governo petista, Collor já foi denunciado na Operação Lava Jato e é suspeito de ter embolsado milhões de reais em propina no esquema do petrolão.
Segundo a delação de Nestor Cerveró, o ex-ministro do governo Collor e operador financeiro do senador, Pedro Paulo Leoni Ramos, chamou o próprio ex-diretor da Petrobras a Brasília para uma reunião na notória Casa da Dinda e no encontro relatou a suposta garantia dada pela presidente Dilma.
(Fonte: Veja.com)
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