O grupo tem 12 mulheres que passaram metade da vida trabalhando juntas, no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. Na rotina, trocaram fotos dos filhos crianças, falaram da formatura e de como os sonhos e planos iam mudando de rumo. Na despedida da mesa e da cadeira, deixaram a sala, mas não uma a outra. E há dois anos passaram a se reunir pelo menos uma vez ao mês, com o intuito de manter firme o laço feito no local de trabalho.
"Aposentadas ativas" foi o nome criado para denominar quem são hoje essas mulheres que encerraram a jornada de trabalho e passaram a se ocupar de tudo o que faziam depois do expediente. "Senão não íamos mais nos ver. Então que tal nos reencontrarmos? Continuar o vínculo? Se eu colocasse apenas 'aposentadas' no grupo, não ia fazer jus, porque ninguém aqui está sem fazer nada", explica a criadora, aposentada ativa e hoje microempresária, Lea Palhano Gonçalves.
Dos 54 anos de idade, os últimos 30 foram passados trabalhando como revisora no Tribunal. Se aposentar foi, par ela, mais a realização de um objetivo, de dedicar mais tempo aos negócios e à família e tudo isso ainda nova e com saúde.
Os encontros acontecem sempre na casa de uma das aposentadas ativas e em volta da mesa, a conversa e as risadas rolam solta. Ao centro, as comidinhas são sempre receitas de família, que cada uma traz de casa.
Na tarde da última sexta-feira, foi o primeiro encontro de Ana Clara Sobral Borges, de 64 anos, aposentada há 16. "O que eu fiz neste tempo? Eu me dediquei, envolvi minha vida no voluntariado, na igreja e também passei a ler, a estudar", conta.
A reunião foi para ela um preenchimento da lacuna que ficou ao deixar o trabalho. "Você fica se perguntando: como estão as pessoas? Isso é um resgate das memórias, das amizades, de atualizar como está a família", descreve. A mais "recente" na aposentadoria é Zelma Munhoz, de 54 anos e que há 12 meses se vê ativa assim. "É maravilhoso, me dedico aos meus pais, netos. Consegui transpor com tranquilidade", resume.
E como quem brinda à vida de antes e a de agora, Margarida Machado, de 55 anos, fala que dos 32 anos passados trabalhando, há quatro, quando chegou a despedida, sentiu viver o dia mais feliz de sua vida. "Porque eu estava pronta e eu não fiquei em casa, encostada. Eu continuei produzindo, eu me especializei, fiz cursos, dou palestras e descobri um talento no artesanato", conta.
A vida virou, como diz ela, "de pernas para o ar". "E foi na semana seguinte, até conheci um novo amor", brinca. Margarida conta que assim como as amigas, não teve um único dia de depressão. "Eu me apaixono todo dia pela vida, pelo tempo que eu tenho para mim. Eu era apaixonada pelo que fazia. Nós aqui nos aposentamos e ficamos felizes, porque nós já eramos felizes".