A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu ao juiz Sergio Moro que anule o acordo de delação premiada do lobista Fernando Moura, amigo há cerca de 40 anos do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e apontado como operador de propinas do PT. Segundo o Ministério Público, Moura deve ter os benefícios da colaboração com a justiça anulados porque mentiu em interrogatório, já que havia atribuído a Dirceu uma "dica" para que deixasse o Brasil durante o escândalo do mensalão. Em uma primeira versão, Moura responsabilizou Dirceu pela ordem e disse que a orientação era que ficasse fora do país "até que a poeira baixasse". Depois, admitiu a mentira e disse que não saiu do Brasil por sugestão do ex-ministro.
Em janeiro deste ano, diante do juiz Sergio Moro, o delator apresentou a versão de que mentiu porque teria sido abordado na rua por uma pessoa que questionou como estavam os netos dele. Fernando Moura interpretou a abordagem como uma ameaça contra eventuais revelações que ele poderia dar aos investigadores. "O parquet federal [Ministério Público] solicitou diligências no local apontado por Fernando Moura, sendo que não foram encontrados registros condizentes com a narrativa do colaborador", relata o MP no pedido de anulação da delação premiada.
Nos depoimentos de colaboração com as investigações, Fernando Moura também havia dito que petistas consideravam "aceitável" receber dinheiro por meios ilícitos para financiar a legenda. Aos procuradores do Ministério Público, Moura detalhou a atuação dele em parceria com o ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, responsável pelo loteamento de cargos no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula e alvo da última fase da Operação Lava Jato, batizada de Carbono 14.
Durante as eleições de 2002, que levaram Lula ao poder, Fernando Moura disse ter conhecido Licínio de Oliveira Machado, sócio da Etesco Construções e Comércio. O executivo apresentou a ele o nome de Renato Duque, posteriormente indicado por Dirceu e Silvio Pereira para a diretoria de Serviços da Petrobras. Moura revelou que a partir da entrada de Duque na cúpula da estatal, houve indícios de que um esquema de desvio de dinheiro de contratos estava a pleno vapor. "Tão logo confirmada a indicação de Duque, Licínio agradeceu o esforço do declarante e acertou que a Etesco lhe pagaria 10.000 dólares mensais como recompensa pela ajuda na nomeação de Renato Duque", disse em um trecho da delação. Segundo a versão do delator, depois da nomeação de Duque, o contrato da Etesco com a Petrobras "se multiplicou".
Em 2004, Fernando Moura teria nova atuação efetiva em benefício do caixa do PT. Em seu acordo de delação, ele disse que recolheu dinheiro da Camargo Corrêa para ser destinado aos petistas - 350.000 reais das mãos do lobista Julio Camargo e 300.000 reais entregues pelo então presidente do Conselho de Administração da empreiteira, João Auler. Os valores, conforme o delator, foram encaminhados ao então secretário-geral do PT, Silvio Pereira.
Em novo depoimento no âmbito da Operação Lava Jato, afirmou que a presidente Dilma Rousseff, à época ministra de Minas e Energia, participou de reunião em 1º de fevereiro de 2003 que chancelou a indicação de Renato Duque à diretoria de Serviços da Petrobras. Duque já foi condenado na Operação Lava Jato e responde a diversas ações penais por ter participado do esquema do petrolão. Em uma reunião para definição de quem ocuparia caros estratégicos no primeiro mandato do ex-presidente Lula, o lobista indicou Duque para o comando da Diretoria de Serviços. Coube ao então chefe da Casa Civil José Dirceu bater o martelo e confirmar a nomeação de Duque. "Pelo que o Silvio me informou, dessa reunião participaram o José Eduardo Dutra (ex-presidente da Petrobras), a Dilma Rousseff, que era ministra de Minas e Energia, o [Luiz] Gushiken (ex-ministro da Secretaria de Comunicação), Delúbio Soares, ele [Duque] e uma outra pessoa de que não me recordo", detalhou em depoimento ao juiz Sérgio Moro. De acordo com o delator, a reunião foi feita na antessala de José Dirceu no Palácio do Planalto.
O delator ainda disse que a presidente Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia no governo Lula, chegou a fazer uma indicação para a diretoria de Exploração e Produção da Petrobras - Moura não foi instado a dar o nome do indicado. A área, considerada sensível pelos investigadores da Lava Jato, é responsável por sondas de busca de petróleo e depois contratou as cobiçadas consultorias do pré-sal.
(Fonte: Veja.com)
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