Apesar de dizer publicamente que tem garantidos os 172 votos para barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, o Palácio do Planalto tem segurança real de algo na casa dos 140 votos. Na véspera da votação, o governo trabalha "a todo vapor" não só para angariar apoio, mas também para evitar que a oposição consiga os 342 exigidos. Uma das apostas, nesta reta final, é convencer palamentares a se ausentarem do plenário no domingo. Há um temor com o que está sendo chamado de "onda negativa" contra o governo, que estaria crescendo.
No governo, o clima é considerado "crítico". Os números do placar de votação oscilam, a cada hora, para baixo e para cima. Mas o problema, de acordo com um assessor do Planalto, é que o ritmo de definição de votos a favor do impeachment tem sido muito maior que o do contra.
Na manhã desta quinta-feira, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), após sair de uma reunião no Alvorada com a presidente, deixou claro o espírito do governo. "Hoje eles não têm 342 votos. O governo tem quase os '172 não'. Mas ausências ou abstenções caracterizarão, na prática, os 'não 342' votos, porque eles precisam dos '342 sim'. Eles não têm e não terão", avisou.
Ao falar dos votos assegurados contra o impeachment, na casa dos 140, a fonte afirmou que neste total, não está incluído, por exemplo, o do líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). Na contabilidade com os apoios anunciados, no entanto, Picciani está incluído. Embora reconheçam a situação desfavorável, auxiliares de Dilma avaliaram que o quadro nesta quinta era ligeiramente melhor do que o do dia anterior, quando alguns ministros ameaçavam jogar a toalha.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também manifestou a aliados a preocupação com os números. Ele avalia que entre votos contrários ao impeachment, ausências e abstenções o governo chegaria a pouco mais de 180 dos 172 deputados necessários. Segundo interlocutores de Lula, ele considera que o número é insuficiente. Por isso, tem articulado freneticamente a partir do quarto do hotel onde está hospedado em Brasília. De acordo com aliados, o petista mandou fazer uma "fila indiana" virtual que, além de deputados, inclui prefeitos, governadores, dirigentes partidários e lideranças civis locais capazes de influenciar na votação.
Há, porém, o reconhecimento de que nem mesmo os esforços do ex-presidente tem dado o resultado esperado. Existe o temor, ainda, de que seu telefone esteja grampeado. Outro fator que atrapalha as negociações é a eleição municipal de outubro. Vários deputados não querem fazer compromissos com o PT.
Muitos parlamentares também acabaram sendo influenciados pelo mercado, segundo o governo. Temem que, com Lula no comando da economia, o governo volte a implementar o que estão chamando de "medidas perdulárias" e as liberações de crédito fácil.
A direção do PDT se reunirá nesta sexta-feira, às 18h, em sua sede em Brasília, para anunciar que expulsará os deputados da bancada que votarem a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, na sessão do plenário da Câmara no domingo. Nesta quinta-feira, o líder da sigla, deputado Weverton Rocha (MA), anunciou apoio integral à presidente da República e disse que o partido fechou questão contra o impeachment.
O parlamentar deixou claro que deputados dissidentes do partido estariam sujeitos à punição do diretório nacional. "Não vamos sair do barco como se fôssemos ratos", disse Weverton Rocha, um dos aliados mais fiéis do Planalto, durante o anúncio. No mesmo dia, o deputado Sérgio Vidigal (PDT-ES) informou que votará pelo impeachment de Dilma no domingo. O parlamentar é presidente do diretório estadual capixaba e está no partido há 30 anos. "Decidi: nem Dilma, nem Temer, nem Cunha e nem Renan", afirmou Vidigal, por meio de nota divulgada à imprensa.
(Com Estadão Conteúdo)
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