Com um movimento comparado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao de uma bolsa de valores, com uma “guerra de sobe e desce”, governo e oposição iniciam o dia em que o plenário Câmara dos Deputados decide se dá prosseguimento ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff em clima de instabilidade.
Um dos principais motores para essa última onda foi o fortalecimento de um movimento de parlamentares que não querem nem a presidente Dilma nem o vice Michel Temer no comando do País.
O grupo de aproximadamente 15 parlamentares votaria abstenção em vez de “sim” ou “não”, o que prejudica a oposição. A maioria é do PSB, mas deputados tanto da base quanto da oposição também cogitam se abster.
O processo só segue adiante se a oposição conseguir 342 votos. Na outra linha, se faltas, abstenções e votos contra somarem 172 parlamentares, o impeachment é enterrado neste domingo (17).
O deputado João Derly (Rede-RS) não quer Dilma nem Temer, mas prefere encampar uma posição. “Eu sou a favor de novas eleições, mas tenho que votar sim ou não. Abstenção pra mim não é uma opção, então votarei a favor”, disse.
Também entre os que não querem Dilma nem Temer e defendem novas eleições, o deputado Domingos Neto (PSD-CE) discorda de Derly:
“Acho incoerente os que não querem nem um nem outro votarem a favor. O julgamento é jurídico e político, tem que ter o crime de responsabilidade. Quando se defende o impeachment usando o argumento de economia, mostra que a decisão é política e não jurídica e é difícil mensurar entre um e outro, você não consegue mensurar o custo do valor da importância da democracia. Quanto vale a democracia? Vale a pena romper? Acredito que a democracia é imensurável.”
‘Tem que conversar 24 horas por dia’
O movimento dos nem-nem foi um dos principais assuntos de ontem (16) entre os petistas. Os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Vicente Cândido (PT-SP) foram alguns dos que atribuíram aos “neutros” o bom humor governista. Teixeira descreveu:
“Estamos vendo que a oposição está retraindo, vemos sinais claros de receio e medo, principalmente com o crescimento dos que não são Dilma e não são Temer. Um exemplo foi o fato de Michel Temer ter voltado de São Paulo. Ele voltou porque não tem votos suficientes, achou que tinha, mas viu que o jogo não estava ganho. O importante é que este movimento nos é favorável.”
Vicente Cândido (PT-SP) acrescentou que os votos estão sendo revertidos graças a uma forte pressão na base e à percepção do povo sobre o que está em jogo.
“Se fizessem uma pesquisa hoje veriam que estamos ganhando, as pessoas não concordam com a maneira que esse processo está sendo conduzido. O grupo de indecisos também ajuda, eles passaram a perceber que um governo Temer não tem legitimidade, será um balaio de gato, feito para agradar ao mercado financeiro e conservador e voltar atrás na conquista de direitos humanos.”
Apesar do clima otimista, um alerta para baixar a bola foi entoado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Só temos 513 votos pra gente conquistar. Nós precisamos conquistar metade desses 513 votos. Ou não deixá-los conquistar 342. Então é uma guerra de sobe e desce. Parece a bolsa de valores. Tem o hora que o cara tá com a gente, tem hora que não tá mais, tem hora que tá com o outro lado, e você tem que conversar 24 horas por dia, então eu tenho que voltar para conversar com governadores que podem nos ajudar."
Histórias e histórias
Fiscal oficial da lista de votos da oposição, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) desqualifica o ânimo dos aliados de Dilma.
Ao HuffPost Brasil, ele se referiu aos cálculos do governo como boatos:
“Não senti os governistas mais animados, senti histórias e histórias. Ontem disseram que oWaldir Maranhão (PP-MA) traria 12 votos, trouxe um só e vai ser expulso do partido. Perdemos de um lado, mas estamos ganhando de outro. Isso é agência de boataria, de marquetagem falsa, o que é normal. Nós estamos chegando nos 370 votos, uma bela gordura em um colégio eleitoral pequeno. Eles precisam de 35 votos, é difícil e o efeito manada, cardume, vai ser intenso amanhã e não vai ser para o lado do governo. O governo não resolveu a vida da população e não vai resolver. A população sabe.”
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