O dia 11 de maio amanheceu como todos os outros no Palácio do Jaburu. Uma equipe de jardinagem aparava a grama, emas andavam livremente pelo local e soldados vistoriavam a área. Como de costume, nas primeiras horas do dia, a presidente Dilma Rousseff passou perto dali na sua caminhada matinal - possivelmente, o mais próximo que ela chegou de Temer nos últimos meses. O Palácio da Alvorada fica a cerca de um quilômetro da residência oficial do vice. Se tudo parecia tranquilo do lado de fora do Jaburu, lá dentro o ritmo era frenético.
Já confiante na vitória do impeachment no Senado, Michel Temer mal acompanhou a votação na Casa. Tinha coisas mais urgentes a fazer, como terminar de montar a sua equipe ministerial e elaborar o texto do primeiro pronunciamento como presidente interino. Foram reuniões atrás de reuniões. Numa jornada de mais de quinze horas, Temer recebeu mais de duas dúzias de políticos no Jaburu e ainda arranjou tempo para almoçar com o ex-presidente José Sarney e ir ao seu gabinete, no anexo do Planalto. A agenda agitada tinha um motivo: o peemedebista quer mostrar à sociedade, no primeiro dia como presidente, que veio para por a "mão na massa". Nada de "vácuo no poder", conforme definiu um dos seus maiores articuladores, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Por isso, logo que Dilma for notificada do afastamento, ele pretende empossar os novos ministros e cortar cargos comissionados com uma edição extra do Diário Oficial, sem cerimoniais e maiores delongas. Já convocou, inclusive, a primeira reunião ministerial para a tarde desta quinta. "Os problemas são graves e o Brasil tem pressa", resumiu o aliado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) como lema do novo governo.
O entra e sai de carros no Jaburu começou cedo. Por volta das 9 horas, Temer recebeu deputados da bancada evangélica, entre eles João Campos (PRB-GO), Paulo Freire (PR-SP) e José Olímpio (DEM-SP). Depois, foi a vez de integrantes do PMDB mineiro - Leonardo Quintão, Saraiva Felipe e o vice-governador de Minas, Antonio Andrade -, que saíram de lá com a indicação de Newton Cardoso Junior, filho do governador mineiro de mesmo nome, para o Ministérios da Defesa. Horas depois, a repercussão negativa de que um deputado de 36 anos comandaria as Forças Armadas levou Temer a recuar e descartar a ideia. Segundo parlamentares que participaram do encontro, ele tentava a todo tempo convencê-los da necessidade de reduzir ministérios para dar uma "resposta à sociedade' e, ao mesmo tempo, ter uma base forte forte no Congresso, duas coisas que, a princípio, não combinam em Brasília.
Por volta das 12h45, Temer saiu do Jaburu para almoçar com o ex-presidente José Sarney, um dos maiores caciques do PMDB, ligado ao grupo do presidente Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até pouco tempo um aliado do Planalto. O almoço foi rápido e o peemedebista voltou em menos de uma hora ao Jaburu para receber mais políticos, entre eles os deputados Nilson Bezzerra (PMDB-MT), Danilo Forte (PSB-CE), Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Francisco Floriano (DEM-RJ), Altineu Côrtes (PMDB-RJ), Osmar Terra (PMDB-RS) e os ex-deputados Sandro Mabel (PMDB-GO) e Roberto Freire (PPS-SP).
Temer passou boa parte do tempo reunido a portas fechadas com seus aliados mais próximos - Henrique Meirelles, cotadíssimo para o ministério da Fazenda, e Moreira Franco, presidente do instituto Ulysses Guimarães. Só saía por alguns instantes para cumprimentar os deputados de baixo clero que o esperavam na sala de espera. "Com o seu jeito polido de ser, ele estava muito simpático e tranquilo. Fez até brincadeirinhas com a gente", contou um dos que o visitaram à tarde.
Ao contrário do que aconteceu na votação do impeachment na Câmara, na qual Temer foi fotografado acompanhando sorridente a sessão pela TV, não foi montada nenhuma estrutura para o acompanhamento da questão no Senado. "Serviram só um café com biscoito e água. Uma hora deu até fome", disse um deputado que ficou no Jaburu por menos de uma hora.
Por volta das 17 horas, chegaram ao Jaburu a agora primeira-dama Marcela Temer e o filho do casal, Michelzinho. Mas, a julgar pela profusão de reuniões, Temer teve pouco tempo para dedicar à família. Em torno das 20 horas, saiu para se reunir com aliados, entre eles o ex-ministro Eliseu Padilha e o senador Romero Jucá, no gabinete da vice-presidência. Na ocasião, Padilha adiantou que o peemedebista adentraria a noite para "concluir todos os atos que dizem respeito à posse dos novos ministros". Um dos que foram recebidos pelo peemedebista nesse horário foi o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre Moraes, sondado para o Ministério da Justiça.
Por volta da 1 hora desta quinta, Temer deixou o gabinete e, sem esboçar sinais de cansaço, deu uma palavrinha rápida com jornalistas que o aguardavam. Tendo o cuidado de colocar a frase na condicionante, não conseguiu esconder o entusiasmo de estar a poucas horas de assumir interinamente o cargo mais alto do Executivo. "Se as coisas acontecerem, vou dar amanhã posse aos ministros. Vamos aguardar serenamente o resultado do Senado". Em seguida, retornou ao Jaburu para acertar os últimos detalhes da equipe ministerial com Jucá, ex-líder do governo FHC, Lula e Dilma e a principal ponte de Temer com o Congresso.
No fim da tarde desta quarta-feira, o esquema de segurança na frente do Jaburu foi reforçado - o efetivo de guardas dobrou e grades foram colocadas ao redor do Palácio, como antecipação a uma eventual onda de manifestações anti-Temer. A julgar pelo degringolar do processo do impeachment e da conturbada transição de governo, os dias no Jaburu permanecerão eletrizantes.
(Fonte: Veja.com)
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