Alunos da Universidade de São Paulo (USP) invadiram na tarde desta quinta-feira uma reunião do Conselho de Graduação que iria analisar e referendar o uso do sistema, que utiliza a nota do Enem e reserva uma parte das vagas para candidatos de escola pública e autodeclarados pretos, pardos e indígenas (PPI). Contrários à adoção de cotas raciais e sociais pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), eles acabaram enfrentando a Polícia Militar no final da noite de ontem, que impediu a ocupação do prédio.
De acordo com a reitoria, os alunos entraram no prédio e interromperam a reunião, que foi finalizada sem deliberação. Marina Nunes Dias, de 20 anos, estudante de Filosofia e integrante do movimento Quilombo Raça e Classe, disse que os alunos fizeram o ato para mostrar a insatisfação com a decisão da USP de apenas adotar cotas via Sisu. "Nós reivindicamos que as cotas raciais sejam proporcionais à população negra e indígena do Estado, que é de 30%. Se só colocam cotas via Sisu, a USP aumenta ainda mais a elitização", afirmou ela.
Em assembleia posterior, com a presença de policiais militares, que fizeram um cerco à reitoria, os alunos votaram por desocupar o estacionamento e optaram por não invadir outros prédios. Mesmo assim, um grupo se deslocou até a antiga reitoria e tentou entrar no edifício. A PM interveio, com bombas de gás lacrimogêneo. Houve correria e a confusão se estendeu até os prédios do Crusp (Conjunto Residencial da USP), residência dos estudantes universitários.
A polícia seguiu os manifestantes até o residencial. Das janelas, moradores jogaram objetos contra os PMs, que responderam com bombas de gás. Residentes gritavam que havia mulheres e crianças e pediam o fim da ação policial. A confusão persistiu até à meia-noite.
Cursos - Nesta quinta-feira, a Escola de Comunicação e Artes (ECA) decidiu que vai adotar o Sisu. Para o próximo vestibular, todos os cursos de Comunicação - Educomunicação, Biblioteconomia, Jornalismo, Editoração, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Turismo - vão separar 81 vagas pelo sistema. Dessas, 34 serão reservadas para PPI.
A adoção do Enem como forma de seleção, em conjunto com o vestibular da Fuvest, começou na USP no ano passado, como aposta para aumentar a inclusão de alunos de escola pública - a meta é de 50% até 2018. No entanto, a medida afastou ainda mais a USP de alcançar sua meta, já que o índice de inclusão caiu de 35,1%, em 2014, para 34,6% no ano passado.
A adoção de cotas sociais e raciais na instituição é pauta antiga do movimento estudantil e já ocorre nas universidades federais desde 2012. No mês passado, alunos ocuparam diversas unidades, incluindo a ECA, reivindicando a adoção da medida e mais políticas de permanência estudantil.
*Com Estadão Conteúdo
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