Já passava das onze horas quando André (Caio Blat) entrou no quarto de Tolentino (Ricardo Pereira) e o encontrou na cama, arrasado depois de sofrer mais uma humilhação de Rubião (Mateus Solano), de quem chegou a receber até tapa na cara. Era o início da sequência mais esperada de Liberdade, Liberdade, a anódina novela de fim de noite da Globo, que, depois da controvérsia da dublê de derrière de Maitê Proença, dois meses atrás, teria aqui o seu momento de maior repercussão.
André procurou animar Tolentino, lembrando-o de que tinha amigos com quem podia contar, ao que o coronel atalhou, “Tenho um só amigo. Você”. A partir daí, a conversa evoluiu sem freios para o ponto esperado. “Você, André, que é um homem sensível, você que entende os mistérios da vida, as voltas que o mundo dá, as surpresas que a vida nos reserva…”, continuou Tolentino. “Surpresas sobre nós mesmos?”, perguntou um matreiro André. “Sim. Você mesmo disse um dia. Todos nós temos uma segunda natureza, que às vezes permanece oculta”, seguiu o coronel português, lançando mais uma deixa para o amigo, que a colheu ainda no ar. “Mas não para sempre”, disse André. “Não para sempre”, rebateu Tolentino, antes de avançar para um beijaço de fazer lembrar as cenas tórridas de Verdades Secretas.
E o que se seguiu deve pouco — ou nada — às cenas de sexo heterossexual que se vê nas novelas. A começar pela imagem do vigoroso traseiro de Ricardo Pereira, no ponto em que, cara a cara como para um bang-bang, André e Tolentino se despem, o peito arfando. Enquanto o português tem as nádegas em primeiro plano, ao fundo Blat tem as partes íntimas cobertas por uma pescoçuda jarra de barro, de formato fálico, sugestivo.
Livres das vestimentas e dos papéis sociais que representam nas Minas Gerais do início do século XIX, quando teria vivido a heroína da história baseada no livro Joaquina, Filha do Tiradentes, de Maria José de Queiroz, os personagens se abraçam, se afagam, se enroscam e se aninham na cama — com direito até a conchinha.
A sequência toda durou 5 minutos e 35 segundos. Um tempo também compatível ao que se dedica a casais formados por homens e mulheres nos mais diversos folhetins da TV aberta. Para os que torcem pela causa gay ou para os que veem no horário um campo livre para sequências mais ousadas, as cenas podem ter parecido suaves. Mas, em comparação com o que é mostrado em outras novelas, com casais que não enfrentam a resistência moral do público, o sexo gay de Liberdade, Liberdade nada ficou a dever. Como se cantaria em uma outra trama de época, lelê, lelê.
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