Mané Garrincha, o maior driblador da história do futebol, morreu em 1983, vítima de seus excessos fora dos gramados e consagrado pelos abusos cometidos dentro dele. Anos depois, o Estádio Nacional de Brasília foi rebatizado em homenagem ao herói do bicampeonato mundial, que, nas palavras de Armando Nogueira, transformava o espaço de “um guardanapo em latifúndio” com sua criatividade. Nesta quinta-feira, a partir das 16h, a reformada arena na capital federal recebe a estreia da seleção olímpica brasileira na Rio-2016, diante da África do Sul, com um legítimo herdeiro de Mané como estrela principal: Neymar, o irreverente e rebelde driblador do século XXI, já viveu momentos marcantes no estádio. E, ao lado de outros colegas ousados, quer trazer a medalha de ouro que insiste em escapar e – mais importante ainda – resgatar a identidade do futebol nacional.
O técnico Rogério Micale, um entusiasta do futebol ofensivo e envolvente, avisou durante a preparação que a movimentação constante (a qual chama de “caos”) e a inventividade serão as principais armas da seleção olímpica. Neymar é um verdadeiro especialista em desconsertar marcadores, como fazia Mané, e não estará só: Gabriel Jesus, do Palmeiras, e Gabriel Barbosa, do Santos, representam a esperança de um futuro brilhante para a seleção e estão confirmados no ataque, que terá ainda o auxílio de outros meias habilidosos, Renato Augusto e Felipe Anderson.
Os tempos são outros – Garrincha não ficou milionário e ainda torrou o que sobrou em bebida, enquanto o atacante do Barcelona já garantiu o futuro de várias gerações –, mas Neymar vem tendo uma carreira tão vitoriosa e controversa como a do ídolo histórico do Botafogo. “Por que não posso ir para a balada?”, rebateu Neymar, questionado sobre suas escapadas e seu comprometimento com a seleção. Verdadeiro xodó da torcida na Copa de 2014, Neymar desde então vem sendo contestado por parte da torcida. Excessos de cartões e reações intempestivas – novamente Garrincha na área: o herói de 62, expulso por agredir um chileno na semifinal, deveria ter sido suspenso da final, mas escapou graças ao “STJD da época” –, além de atuações abaixo da média, queimaram o filme do capitão da seleção olímpica. A Rio-2016, portanto, se torna uma chance de afirmação tanto para Neymar quanto para a seleção brasileira.
O atacante ousado já se destacou no Mané Garrincha: em 2013, chorou ao se despedir do Santos, diante de mais de 60.000 pessoas, em jogo contra o Flamengo, o último antes de partir para a Catalunha. Dias depois, marcou um golaço, candidato ao prêmio Puskás, diante do Japão, na abertura da Copa das Confederações. Ainda em 2013, marcou outro golaço, diante da Austrália, em goleada por 6 a 0. Na Copa do Mundo, mais dois belos gols e ovação na vitória sobre Camarões. Nesta quinta-feira, Neymar quer repetir a consagração na capital federal e fazer as pazes com a seleção. Com a benção de Mané.
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