Desativar essa bomba relógio foi uma das principais promessas políticas do secretário de segurança, José Mariano Beltrame, e de seus chefes, os governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. Na mais emblemática ação, em abril de 2014, às vésperas da eleição que garantiu o mandato a Pezão, o governo do Rio de Janeiro pediu ajuda federal. Cabral ligou para Dilma Rousseff e solicitou uma ocupação militar. Cerca de 3 000 homens das Forças amarradas desembarcaram e ocuparam o território por um ano e dois meses. Além de caríssima (mais de 600 milhões de reais), a missão se revelou um verdadeiro desastre.
Depois de 32 anos — desde a guerrilha do Araguaia, em 1972, o exército não perdia um soldado em combate. No final de 2014, aos 21 anos, Michel Mikami, foi assassinado por traficantes da mesma favela que emboscou a equipe da Força Nacional. Pior: naqueles 14 meses de ocupação, pelo menos 27 militares foram baleados. A previsão era de que, após a saída dos militares, a secretaria de segurança ocuparia a região para instalar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), com precisão de 1 200 homens. Era nítido que, se as Forças Armadas sofriam ataques diários mesmo com um aparato quase três vezes maior, a ocupação da PM seria quase uma tática suicida, semelhante ao caos que se transformara outras regiões com UPP, em especial os complexos do Alemão, da Penha, Jacarezinho, Manguinhos, Rocinha e Lins.
Para Beltrame, foi um certo alívio não ter condições financeiras de fazer a ocupação, em virtude da crise financeira em que o Estado mergulhou neste ano. O problema é que, com o vaivém de delegações olímpicas, estariam todos à mercê da vontade dos traficantes. O site da revista VEJA mostrou em junho que traficantes brincavam de mirar seus fuzis pra veículos na Linha Vermelha.
Na semana passada, antes mesmo de os Jogos começarem, a delegação chinesa de basquete ficou em meio ao fogo cruzado logo após desembarcar no Aeroporto do Galeão. O intenso tiroteio apavorou os turistas e quem passava pela Linha Vermelha. “Ficaram discutindo terrorismo e não pararam para pensar que o terrorismo no Rio de Janeiro é esse aí, de vivermos numa cidade sitiada e sujeita a esse tipo de situação”, diz um delegado federal que atua na cúpula da segurança para os Jogos.
O erro cometido pelos policiais da Força Nacional – que feriu o soldado Helio Andrade Vieira, de Roraima, na cabeça – é comum naquela região, onde apenas uma placa indica ‘Vila do João’. Há dois meses, Maria Lucila Barbosa de Araújo, de 49 anos, foi baleada na coxa direita ao pegar a mesma rota. Em 2013, o engenheiro Gil Augusto Barbosa, de 53 anos, morreu após ser baleado na cabeça tentando ir para o aeroporto. Já em 1995, um grupo de torcedores do Santos que estava no Rio para um jogo também entrou por engano no local e foi metralhado, matando um e ferindo cinco. Ou seja, o problema é antigo e ninguém resolve.
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