A prisão de Patrick Hickey, membro do Comitê Executivo do COI e presidente do Conselho Olímpico da Irlanda, na semana passada, desbaratou uma antiga rede internacional de cambistas que já havia atuado durante a Copa do Mundo de 2014. Com a busca e apreensão feita dentro do quarto de um hotel na Barra da Tijuca, a Polícia Civil obteve documentos que comprovam o relacionamento estreito do dirigente com Marcus Evans, empresário inglês que é apontado como um dos maiores vendedores de ingressos para grandes eventos no mundo.
Os e-mails encontrados pelos agentes começam em 2010 e vão até o início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Uma dessas mensagens apreendidas, aliás, ajudou a desmontar uma farsa montada pelo próprio Hickey. Em depoimento, o cartola irlandês, de 71 anos, admitiu ter conversado com Marcus Evans, mas alegou que seu intuito era cobrar explicações para a prisão de outro irlandês, Kevin James Mallon, flagrado comercializando bilhetes horas antes da Cerimônia de Abertura.
O detalhe é que a conversa apreendida pela polícia aconteceu dois dias antes da festa, dia 3 de agosto: “Kevin James Mallon só foi preso dois dias depois da conversa que eles falavam sobre os ingressos da cerimônia de abertura. E o contato deles vem desde de 2010, pelo menos”, explicou o delegado Ricardo Barbosa, diretor do Núcleo de Apoio aos Grandes Eventos (Nage).
Os investigadores deram detalhes desta conversa travada. E nela fica claro que Hickey sabia que pelo menos 84 ingressos do Conselho Olímpico da Irlanda parariam nas mãos de cambistas, através da empresa THG, a mesma que havia sido flagrada fazendo no esquema de cambismo durante a Copa do Mundo de 2014. “O Hickey liberou para o pessoal do Marcus James os ingressos da Irlanda”, diz o delegado Aloysio Falcão.
Neste diálogo, exatamente às 14h19 horas, o dirigente avisa que não precisará de nenhum dos ingressos destinados ao Comitê para a abertura nem para o encerramento: “Você pode usar tudo”, diz ao cambista. O delegado lembrou que, após a prisão de Mallon (diretor da THG), os dois mantiveram vários outros contatos: “Eles combinaram a reposta com a Pro10, inclusive. Construíram uma reposta junto para a imprensa”.
As entradas da cerimônia de abertura, que no valor de face custavam 3 000 reais chegavam a ser vendidos por 25 000 reais, eram apenas a ponta do iceberg. A polícia calcula que a quadrilha movimentaria cerca de 10 milhões de reais durante a Olimpíada. E, oficialmente, boa parte desses ingressos vinha da Pro10, empresa credenciada pelo Conselho Olímpico Irlandês para a venda de ingressos.
O objetivo, na verdade, era colocar a própria THG, mas como ela já havia sido descoberta na Copa, a Pro10 foi criada – em abril de 2015 – em substituição. Sete integrantes das duas empresas estão com mandados de prisão decretados. Outros dirigentes do Conselho Olímpico da Irlanda também continuam sendo investigados, entre eles o atual presidente William O’Brian.
No último domingo, a Polícia Civil fez mais uma busca e apreensão e encontrou 228 ingressos em poder do Conselho da Irlanda para vários eventos. Três passaportes também foram apreendidos.
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