Os números não mentem: o “bando de loucos” anda bem mais comedido. A torcida do Corinthians, uma das maiores do Brasil e do mundo, é historicamente conhecida por sua fidelidade e apoio incondicional ao time, mas não vem confirmando a fama nas últimas partidas no Itaquerão. Foram quebrados dois recordes negativos de público na arena na última semana, fenômeno que já preocupa a diretoria – que, por sua vez, precisa pagar as contas do estádio e, por isso, mantém os preços das entradas altíssimos.
É inegável que a mudança do alugado Pacaembu para uma arena própria e “padrão Fifa” mudou o perfil do torcedor corintiano. Os ingressos caros, a atual má fase do time que se acostumou a ganhar e também os horários ruins – os jogos às 21h45, o horário nobre da TV, afugentam quem acorda cedo no dia seguinte para trabalhar – vem fazendo os números de público do Corinthians se aproximar dos outros clubes do país – no ano passado, a média de público de todo o Brasileirão foi de pouco mais de 17.000, ainda abaixo do pior público da história do Itaquerão.
Na vitória desta quarta-feira diante do Cruzeiro, pela Copa do Brasil, apenas 18.796 torcedores foram a Itaquera, o menor público da história do estádio que abriu a Copa do Mundo de 2014. O recorde negativo anterior foi estabelecido no domingo passado, com 18.838 na derrota para o Fluminense, pelo Campeonato Brasileiro. Foram as duas únicas vezes que o time teve público abaixo de 20.000 na nova casa.
Cabe uma ressalva: os dois jogos foram realizados sob condições excepcionais, com parte do estádio interditado. Punido por confusões entre torcedores organizados e a polícia no clássico contra o Palmeiras, o Corinthians não pôde receber público no setor norte, onde ficam as torcidas organizadas, no último domingo. O clube conseguiu na Justiça afrouxar a restrição para enfrentar o Cruzeiro na quarta-feira ao liberar metade da área anteriormente proibida.
No entanto, os cinco menores públicos do Corinthians na nova arena foram nesta temporada. A sobreposição de recordes começou contra a Ponte Preta, pelo Campeonato Paulista (22.029 torcedores). No segundo semestre a queda continuou, com a quebra dos índices negativos nos encontros contra Vitória (20.207), antes das partidas contra Fluminense e Cruzeiro.
A diretoria relaciona a queda de público com o momento instável do time. As negociações e empréstimos fizeram 20 jogadores deixar o clube em 2016. O enfraquecimento cresceu com a saída do técnico Tite, ídolo máximo da torcida, e a aposta no contestado Cristóvão Borges, que só durou três meses no cargo. Há quatro rodadas sem vencer, o Corinthians deixou o G4 (é o sétimo colocado).
Críticas – Depois da recente derrota para o rival Palmeiras, que encerrou uma invencibilidade de 34 jogos do Corinthians em Itaquera, o presidente do clube, Roberto de Andrade, admitiu que a torcida estava com um comportamento frio e abaixo do esperado. “As pessoas às vezes vão ao jogo e se manifestam menos. Isso para mim é um abandono. Estamos acostumados a ver uma multidão gritando os 90 minutos”, disse.
Em setembro, o clube recebeu uma média de 24.500 torcedores por partida no Itaquerão, número bem inferior ao índice de 38.000 registrado em abril, durante a disputa da Copa Libertadores. Desde 2010, o Corinthians domina o ranking de público do Brasileirão (perdeu apenas em 2013 e 2014 para o campeão do torneio, o Cruzeiro, que encheu o Mineirão nas partidas decisivas). No ano passado, quando conquistou o hexacampeonato, o time teve média de público de mais de 33.000. Neste ano, mesmo com a queda das últimas rodadas, a média segue acima de 30.000 (atrás apenas do líder Palmeiras).
Vaias – Outra reclamação da diretoria e até dos atletas é a mudança de comportamento dos torcedores no estádio. Na última quarta-feira, o volante Willians e o técnico interino Fábio Carille foram muito vaiados no momento em que o jogador se preparava para entrar em campo. “Fiquei chateado. Mas isso não pode me abalar”, disse Willians, surpreso com a perseguição da torcida.
O ex-jogador e hoje gerente de futebol do clube, Alessandro, criticou o comportamento. “Uma pequena parte da torcida está impaciente, abrindo mão de torcer até o último minuto”, comentou o ex-lateral, capitão do time nas conquistas da Libertadores e do Mundial de 2012, ambas marcadas pelo apoio incondicional dos torcedores, no Pacaembu e no Japão.
Preços – O alto preço do ingresso é apontado pela torcida como um dos principais causadores dos espaços vazios no estádio. Para a próxima partida em casa, diante do Atlético-MG, pelo Brasileirão, na próxima quarta-feira, há ingressos disponíveis para não sócios em três setores. Os preços variam de 80 a 180 reais (o setor mais caro, oeste inferior, tem ficado quase vazio nas últimas partidas).
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