Engana-se quem pensa que Tite diminuiu sua carga de trabalho ao trocar o agitado dia a dia do Corinthians para realizar o sonho de treinar a seleção brasileira. Claro, com poucos dias para treinamento, o técnico gaúcho tem pisado bem menos nos gramados, mas segue uma rotina desgastante na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Quando não está viajando para analisar atletas convocáveis, Tite permanece em sua sala, das 10h às 19h, em contato direto com sua equipe de analistas e auxiliares. Metódico e disciplinado, ele se tornou cada vez mais um estudioso do futebol: devora livros e relatórios sobre os adversários, conversa com treinadores e jogadores e busca inspiração na análise de vídeos de variados clubes, épocas e até outras modalidades. A seleção de 1982 se tornou sua principal referência – do que fazer com a bola e até do que não fazer sem ela – e o craque do basquete LeBron James chegou a ser utilizado para potencializar o jogo de Neymar. Conheça estes e outros métodos revelados por Tite a VEJA na preparação da seleção que enfrenta a Bolívia nesta quinta-feira, em Natal, e a Venezuela, dia 11, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.
Trabalho em equipe
Tite nunca escondeu que um dos segredos de seu sucesso é a competência de sua equipe de auxiliares. Ao lado de sua sala na CBF, funciona o CPA (Centro de Pesquisa e Análise), criado por seu antecessor Dunga e o antigo coordenador Gilmar Rinaldi. O analista de desempenho Maurício Dulac foi mantido no cargo e é um dos principais aliados de Tite. É ele quem compila os vídeos de diferentes equipes e épocas que serão enviados aos atletas, com instruções específicas sobre variadas situações de jogo como “saída de bola”, “transições”, “flutuações”, entre outros quesitos. Em outra sala, os auxiliares Cleber Xavier (seu braço-direito há mais de 15 anos) e o filho Matheus Bachi cuidam mais especificamente da análise dos adversários – chamam a atenção dois calhamaços na mesa, um com o escudo da Bolívia e outro da Venezuela. O outro auxiliar, o ex-jogador Sylvinho, também trabalha ativamente, mas mais voltado à analise de atletas brasileiros no futebol europeu.
A nova comissão técnica vem promovendo uma abertura inédita na seleção brasileira. Além de abrir seu centro de pesquisas a visita de jornalistas,
Tite revelou, no site da CBF, alguns de seus passos e de seus analistas, que do dia 11 ao 28 de setembro, acompanharam, in loco, 25 jogos no Brasil e na Europa e não apenas em grandes eventos – o técnico chegou a acompanhar um jogo do Vasco, pela segunda divisão. Na preparação dos jogos anteriores, as vitórias sobre Equador e Colômbia, Matheus Bachi viajou à China e seu relatório foi fundamental para as convocações de Paulinho, Gil e Renato Augusto. Tite revela que sua equipe anota qualquer detalhe relevante, como um desenho tático de bola aérea, que será debatido online e depois presencialmente. “O Maurício não aguenta mais receber mensagem minha. Vejo a jogada, mando o minuto e o jogo e peço pra ele selecionar, para depois analisarmos”, conta Tite.
No Corinthians, o treinador tinha o hábito de enviar por WhatsApp os vídeos com jogadas dos adversários ou situações de outras equipes que deveriam ser copiada. Na seleção, a “lição de casa” dos atletas é feita por meio de um site do qual apenas os integrantes da equipe têm acesso. Nele, há uma série de jogadas que servem como referência, como saídas de jogo do Barcelona, do Arsenal e do Bayern de Munique, transições do Real Madrid ou do Manchester City e movimentações de ataque da seleção de 1982 ou do Corinthians de 2015. O time hexacampeão brasileiro é constantemente citado pelo treinador. “Repare na inteligência do Jadson e do Renato Augusto para mudar de posição e gerar superioridade numérica”, diz Tite, eufórico, ao mostrar uma das jogadas da equipe que pretende usar na seleção.
*Veja