No mesmo dia em que Neymar e o Brasil de Tite massacraram a Bolívia com bom futebol, o Barcelona celebrou os 20 anos de casa de um de seus grandes ídolos: Andrés Iniesta. Em um vídeo de perguntas e respostas promovido pelo clube, o meio-campista espanhol relembrou que foi suspenso por cartões apenas duas vezes em toda a carreira. Isso significa que Iniesta levou menos de 10 cartões amarelos em mais de 600 jogos pelo Barcelona. Seu companheiro Neymar já levou 4 em 6 jogos pela seleção nessas Eliminatórias. Mais de 100 em seus 24 anos – mais até do que o truculento brasileiro naturalizado português Pepe. Assim como o de ontem, em Natal, a imensa maioria dos cartões de Neymar foi desnecessária. Há quem considere que o cartão de ontem foi forçado e “estratégico” – cumprirá suspensão contra a Venezuela, na terça-feira, e poderá jogar zerado contra a Argentina, em novembro. Mas quem garante que o jogo contra os venezuelanos será fácil?
Como de costume, Neymar apanhou durante quase todo o tempo em que esteve em campo – saiu na segunda etapa com o rosto sangrando após receber uma cotovelada desleal. A truculência dos rivais se repete a cada jogo. “Quanto mais apanha, mais Neymar joga”, é o mantra repetido por seu entorno desde que o atacante explodiu aos 17 anos. É verdade. Mas quanto mais apanha, mais Neymar se irrita – e muitas vezes perde a cabeça sem necessidade. É até preferível pensar que o cartão diante da Bolívia foi premeditado, pois seria muita infantilidade empurrar e xingar um defensor e gritar com o árbitro com o Brasil tendo o total controle da partida. Mas não seria mais inteligente NÃO levar cartões nem contra a Bolívia, nem contra a Venezuela? E forçá-lo, quem sabe, mais para frente, com o Brasil já classificado?
Ao jornais catalães Sport e Mundo Deportivo, já habituados ao descontrole de seus atacantes previu no início da semana: Neymar e o uruguaio Luis Suárez estavam pendurados e poderiam retornar mais cedo das Eliminatórias. O brasileiro levou cartão, o uruguaio não. Na Espanha, Neymar já causou controvérsia ao supostamente forçar suspensões para comparecer ao aniversário da irmã Rafaella nos últimos dois anos. Convenhamos, é até mais compreensível desfalcar o Barcelona num jogo qualquer da liga espanhola, em que a equipe provavelmente vencerá de goleada com ou sem ele, do que o Brasil em um jogo fora de casa valendo vaga na Copa do Mundo. Neymar já manchou bastante a sua imagem ao ser expulso contra a Colômbia e excluído da Copa América de 2015. Já deveria ter aprendido a lição.
O técnico Tite, que teve seu nome gritado pela torcida potiguar, parece ser o homem certo para colocar, enfim, Neymar nos trilhos. Na coletiva após a partida, o gaúcho disse que Neymar precisa passar um “processo de maturidade”. “Não fala com árbitro, não fala com o adversário, vai jogar, vai para dentro do adversário no último terço do campo”, foram alguns dos conselhos que Tite diz ter passado a seu principal jogador. A CBF liberou o atacante para retornar à Espanha, mas exigiu “descanso”.
Neymar foi, mais uma vez, sensacional em campo. Seguindo os conselhos de Tite, que quer vê-lo como LeBron James, ajudou na marcação e foi solidário. Ainda marcou um gol e deu duas assistências. Levantou a torcida, chegou a 300 gols na carreira, é o quarto maior artilheiro da história da seleção brasileira aos 24 anos. Neymar tinha tudo para ganhar uma nota 10, não fosse a questão disciplinar. Agora ganhará tempo para refletir e retornar à seleção em dezembro, quem sabe em uma versão mais madura. E na hipótese de que algum assessor ou “parça” de Neymar lhe repasse este texto, que fique claro: esta é uma crítica 100% construtiva.
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