Candidato rico, empresário e com perfil distante da tradicional política: a fórmula que definiu a eleição pela prefeitura de São Paulo em um inédito primeiro turno também é usada a mais de 2.500 quilômetros da capital paulista, na cidade de Porto Velho, em Rondônia. Lá, muito embora as diferenças entre as cidades vão desde o tamanho do eleitorado aos índices de desenvolvimento humano, também despontou de forma inesperada um candidato que, no início da campanha, não passava de mais um desconhecido nome nas urnas.
Assim como o fenômeno de votos João Doria, prefeito eleito de São Paulo, o tucano Hildon de Lima Chaves, o Dr. Hildon, surpreendeu na disputa deste ano. Ele jamais figurou entre os primeiros colocados na briga pela prefeitura de Porto Velho. A dois dias da eleição, pesquisa do Ibope o projetou em quinto lugar, com apenas 9% das intenções. Contrariando todas as previsões, acabou indo ao segundo turno no primeiro lugar.
Agora, ao mesmo tempo em que rechaça o apoio de candidatos derrotados na primeira etapa, busca aproximar-se de figuras de maior apelo entre o eleitorado. Não à toa, tenta um espaço na agenda de João Doria para levar o correligionário ao seu programa partidário. “Nós somos muito parecidos. Nunca conversei com ele, acompanho a sua carreira à distância, mas somos parecidos”, afirma. O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, já figurou na campanha. Presidente do PSDB, Aécio Neves também pode gravar para Hildon.
Antes um candidato que tinha de se apresentar aos eleitores durante as caminhadas em campanha, Hildon cresceu na disputa graças ao seu perfil “outsider”, o que muito agrada a população de um estado marcado por sucessivos escândalos de corrupção. A falta de experiência política ou administrativa, a principal tecla batida pelos adversários, é rebatida com o currículo do tucano: ele foi promotor de Justiça e atualmente está à frente de uma bem-sucedida rede de ensino, o que usa como álibi para tentar se distanciar das conhecidas fraudes na região e mostrar conhecimento em gestão.
Na primeira eleição sem doações empresariais, o poder financeiro de Hildon também tem papel crucial. O novato foi o que mais investiu na campanha com recursos próprios – até o momento, tirou 1,4 milhão de reais do bolso para impulsionar seu projeto político. O valor representa mais de 10% de todos os bens listados pelo tucano à Justiça Eleitoral. O patrimônio do candidato inclui jatinho, lancha, carro importado, terrenos e até um apartamento milionário na badalada Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro.
Internamente, Hildon jamais foi o favorito do PSDB para a disputa municipal deste ano. As fichas de aposta recaiam sobre a deputada federal Mariana Carvalho, eleita em 2014 com mais de 60.000 votos. Mariana optou por continuar o mandato em Brasília, o que forçou uma nova candidatura de última hora. Nos debates, o novato não causava preocupação entre os demais candidatos, ficando fora do fogo cruzado protagonizado entre os principais caciques.
As semelhanças com Doria também abarcam as propostas de governo. O empresário encampa a bandeira de firmar parcerias público-privadas (PPPs) para solucionar problemas crônicos do município, entre eles a falta de saneamento básico. “Não vai ter mamata, não vai ter superfaturamento, não vai ter nada de errado”, argumenta, ao defender o modelo.
Mas o que mais o aproxima do tucano paulista é o esforço de vender-se como uma figura nova no cenário eleitoral, ainda que esteja vinculado a um dos maiores partidos do país desde 2015. “Eu nunca fui político. A mesma indignação que as pessoas têm com a classe política eu também tenho. Até alguns dias, antes de ser candidato, eu era mais um eleitor do Brasil com as mesmas frustrações, indignações e revolta com a classe política. Só que para mudar a política alguém tem de se candidatar”, afirmou à reportagem.
Adversário do tucano, o candidato Léo Moraes (PTB) tenta desmontar o discurso: “O fenômeno [candidato novo] causa um pouco de cegueira. Deixa as pessoas com a visão deturpada e embaçada da realidade”, afirma. “Todo mundo que se filia a um partido, que é candidato, é político. Ainda mais ele, que sempre foi apoiador do Expedito Júnior, sempre esteve na mesma rota”, afirma, referindo-se ao ex-senador e presidente do PSDB de Rondônia.
Expedito Júnior teve o diploma cassado por compra de votos e abuso de poder econômico nas eleições de 2006. O candidato é sócio da esposa dele em uma empresa de educação localizada em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Embora na Receita Federal a empresa conste como ativa, no endereço atualmente funciona um restaurante mantido por outros proprietários. Hildon ponderou à reportagem que o negócio nunca chegou a funcionar e que anualmente o declara como sem movimento.
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