Brasil Brasil
Bombeiros criticam coach por trilha sob forte chuva sem equipamento
Corpo de Bombeiros foi mobilizado para resgate de 32 pessoas após grupo ter barracas rasgadas por ventania. Subida ao pico foi feita com chuva forte e vento, fora da época recomendada e sem os equipamentos necessários.
07/01/2022 16h28
Por: Tribuna Popular
- Internautas criticam postura de coach de promover subida com pessoas despreparadas e sem equipamentos necessários — Foto: Reprodução

Uma "expedição" liderada por um coach no Pico dos Marins em Piquete (SP) foi alvo de críticas após mobilizar o Corpo de Bombeiros em uma operação de nove horas para o resgate de 32 pessoas. A subida ao pico foi feita em meio à forte chuva e ao vento, fora da época recomendada e sem os equipamentos necessários.

“Ele foi totalmente irresponsável. Subir com um grupo de pessoas despreparadas e sem equipamento é colocá-las sob risco de morte. Essa foi a pior ação que a gente viu no Pico dos Marins”, afirma Paulo Roberto Reis, capitão dos bombeiros e chefe da operação de resgate.


Alinhamento: EsquerdaTamanho: Original

Subida ao Pico e resgate

Na última quarta-feira (5), o coach, que tem 2 milhões de seguidores no Instagram, subiu com cerca de 60 pessoas, prometendo “códigos que destravassem a mente” ao fim da escalada. O Pico dos Marins é um dos mais altos do estado de São Paulo, com uma trilha complexa e com histórico de mortes.


Na rede social, Marçal compartilhou vídeos que mostram as pessoas relatando cansaço, frio e querendo desistir da "expedição" enquanto eram convencidas por ele de que a circunstância “era uma chance de crescimento” e que era preciso “vencer os medos”.

Parte do grupo desistiu ao longo do caminho e apenas 32 pessoas permaneceram na subida, mas tiveram que ser resgatadas pelos Bombeiros.


Segundo as equipes, o resgate foi acionado por volta das 2h30 depois que o grupo teve barracas arrastadas pela ventania e as pessoas ficaram molhadas, sob risco de hipotermia – no pico à noite a temperatura chega perto de 0°C.


Alinhamento: EsquerdaTamanho: Original

'Irresponsabilidade'

O Corpo de Bombeiros afirma que a ação foi um risco para os participantes e para as equipes. Com a chuva, a pedra estava escorregadia e a neblina dificultava a visibilidade.


Após o resgate, Marçal alegou em uma rede social que a intervenção dos bombeiros foi feita por precaução. A corporação contesta.


“O Corpo de Bombeiros não faz trabalho de precaução, somos um órgão público que atende emergência. Recebemos um chamado para mais de 30 pessoas perdidas, sem equipamentos, debaixo de chuva e pedindo apoio de resgate no Pico dos Marins. Foi isso foi o que o Bombeiro foi atender. E evitamos uma tragédia”, disse Reis.


Alinhamento: EsquerdaTamanho: Original

O bombeiro Pedro Aihara, que já atuou em resgates como no desastre de Brumadinho, em Minas Gerais, também usou as redes sociais para criticar Marçal. Ele chamou o coach de “fanfarrão” pela atitude e por omitir que o grupo, na verdade, foi resgatado pelos bombeiros, não desceu sem a ajuda das equipes.


“Falar depois que o resgate foi concluído e que toda uma equipe foi empenhada na operação que ligaram 193 'por preocupação' é muito fácil. Quero ver na hora que estão no meio do aperto lá”, postou Aihara.


O g1 tentou entrar em contato com Pablo Marçal, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. Em uma transmissão nas redes sociais, ele minimizou o episódio.


"Algumas pessoas não suportam quem corre risco. Se você não corre risco, dificilmente você vai chegar no topo. Nossa subida na montanha, a gente correu muito risco. E aí alguém fala: 'mas para que correr risco?'. Você que não quer correr risco, fica na sua casa assistindo os stories. Eu não mandei ninguém subir, eu fui na frente. Fui lá, subi e resolvi. Cada um subiu na sua responsabilidade", disse.


Alinhamento: EsquerdaTamanho: Original

Pico dos Marins

O Pico dos Marins é um ponto turístico e muito procurado para a prática de montanhismo. A recomendação é de que a atividade seja feita nos períodos mais secos do ano, entre abril e agosto.


Os bombeiros orientam que as pessoas não entrem no local sem supervisão de guia profissional, porque a trilha é complexa e com histórico de pessoas perdidas e até mortes.


O Pico tem 2,4 mil metros de altitude e é o quarto maior de todo Estado de São Paulo. Para chegar ao cume é preciso passar por uma trilha de terra, onde o nível de acesso é considerado de médio a pesado.


O tempo de escalada é longo - ida e volta varia entre sete a oito horas, considerando o período de uma hora de visitação no pico. Ir ao Pico dos Marins exige bom condicionamento físico dos turistas.


Em 2018, um esportista francês que morava na região morreu durante uma tentativa de subida. Eric Welterlin, de 54 anos, praticava corrida de montanha e foi ao local com equipamentos e suporte, mas acabou se perdendo e foi encontrado morto.


Os bombeiros alertam que é frequente as ações de intervenção no Pico para o resgate de turistas e que a prática no local só pode ser feita com acompanhamento de guia e equipamentos de comunicação, aquecimento e alimentação necessárias.