Durante um bom tempo, num passado recente, o Corinthians fez questão de avisar torcida e imprensa de que não se interessava em ter treinadores estrangeiros. Isso ocorreu em diferentes ocasiões nas quais o comando da equipe ficou vago durante as gestões dos presidentes Andrés Sanchez, Mario Gobbi e Roberto de Andrade. Não à toa, já faz mais de 16 anos que o clube não conta um técnico de outro país – o último foi o argentino Daniel Passarela, em 2005.
Porém, tal postura mudou com Duilio Monteiro Alves. A primeira mostra disso veio no meio do ano passado, quando o Corinthians tentou a contratação do uruguaio Diego Aguirre para substituir Vagner Mancini. A negociação não prosperou, e o Timão optou por Sylvinho, que acabou demitido na semana passada.
Desta vez, os estrangeiros passaram a ser não apenas uma possibilidade, como também uma prioridade. Com o diagnóstico de que há carência de bons técnicos no Brasil, a diretoria alvinegra volta suas atenções para o mercado internacional.
O foco no momento está em Portugal, país que tem uma vasta escola de treinadores e que forneceu os campeões das últimas três Copas Libertadores: Jorge Jesus, pelo Flamengo, e Abel Ferreira, pelo Palmeiras. Dentre os nomes sugeridos e estudados pelo Corinthians, dois se destacaram: Vitor Pereira e Paulo Fonseca.
A dupla chamou atenção por seus currículos. Vitor Pereira é bicampeão português pelo Porto (2011-12, 2012-13) e passou por Al-Ahli, da Arábia Saudita, Olympiacos, da Grécia, e 1860 München, da Alemanha. O último trabalho dele foi no Fenerbahçe, da Turquia, clube que deixou em dezembro do ano passado.
Já Paulo Fonseca comandou o Braga na conquista da Taça de Portugal (2015-16), teve passagem de sucesso pelo Shakhtar Donetsk e esteve à frente da Roma, da Itália, entre 2019 e 2021.
A diretoria alvinegra buscou informações e fez contatos com os dois, mas não formalizou proposta oficial. Em ambos os casos, foi informada de que as negociações são difíceis. Porém, ainda há esperança em um acerto.
Desde a semana passada, inúmeros nomes foram oferecidos ao Corinthians. Um dos últimos foi o de Rámon Díaz, argentino de 62 anos, que está de saída do Al-Nasr, da Arábia Saudita. Ídolo e multicampeão pelo River Plate, ele também teve passagens de sucesso por San Lorenzo e Al-Hilal. Em 2020, Díaz foi contratado pelo Botafogo, mas acabou demitido sem ter dirigido a equipe em um único jogo sequer. Ele teve de passar por uma cirurgia, e o clube carioca decidiu não esperar a recuperação.
Além de identificar falta de opções no mercado do brasileiro e maior capacitação dos estrangeiros, Duilio vê a contratação de um técnico de outro país como a chance de romper processos e trazer modernidade ao dia a dia do CT Joaquim Grava.
Antes apontada como um empecilho, a possível dificuldade de adaptação do treinador ao Brasil já não preocupa tanto.
Os dirigentes tomam cuidado na obtenção do máximo de detalhes sobre os métodos de trabalho dos profissionais desejados e a forma como eles se relacionam com jogadores e demais funcionários.
A questão financeira atrapalha, mas não inviabiliza tal contratação. O Corinthians sabe que terá de pagar muito mais do que para Sylvinho e prevê até triplicar o gasto com a comissão técnica.
A desvalorização do Real perante outras moedas torna a operação mais cara. O Euro comercial está sendo negociado a R$ 6,04.
O desejo da diretoria corintiana é fixar o valor de câmbio em contrato, de forma a se proteger de eventuais variações de cotação. No passado, o clube enfrentou dificuldades nos pagamentos dos paraguaios Balbuena e Romero, cujos salários estavam estipulados em dólar.
O Timão tenta definir o substituto de Sylvinho o quanto antes, mas ao mesmo tempo prega paciência e cuidado para não cometer erros. Em meio a essa busca, cartolas do clube têm adotado silêncio, a fim de não criar expectativas na torcida e atrapalhar as negociações.
Enquanto isso, o auxiliar Fernando Lázaro segue à frente da equipe de maneira interina. Sob o comando dele, o Corinthians volta a campo nesta quinta-feira, contra o Mirassol, às 21h30, na Neo Química Arena.