O zagueiro Marlon, do Shakhtar Donestk, relatou nesta sexta-feira o drama vivido pelos jogadores brasileiros em Kiev neste momento por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Ao lado de outros atletas brasileiros e familiares, o jogador está em um hotel e aguarda decisões para poder sair do país. Marlon ressaltou a preocupação de todos com a alimentação e segurança na medida que as tropas russas se aproximam da cidade.
– A gente está num hotel, dentro de um bunker. Com um banheiro só, poucas camas, poucos alimentos. Meu filho e os filhos de alguns jogadores estão começando a sentir falta de leite, fralda. As tropas russas estão se aproximando... A tensão é grande, aqui tem criança pequena, idosos. Nossa tensão é muito grande, está realmente bem complicado – afirmou o jogador (veja a entrevista completa no vídeo acima).
Com a dificuldade para encontrar mantimentos, Marlon relatou que o atacante Junior Moraes, brasileiro naturalizado ucraniano que também atua no Shakhtar Donetsk, precisou deixar o hotel para procurar um supermercado.
– É triste dizer isso, mas tenho que dizer. Hoje o Junior Moraes teve que ir para a rua para encontrar supermercados abertos e tentar encontrar alimentos. É agonizante a situação. Ele conseguiu encontrar, e graças a Deus voltou. Porque ele é um cidadão ucraniano e brasileiro, ele está medindo todos os esforços para tirar a gente daqui... Chego a ficar tenso para comentar a situação dele porque é delicado. Acredito que como cidadão brasileiro também consiga voltar para casa – disse o defensor.
– O desejo nosso aqui, coletivo, é que a gente consiga uma maneira de deixar o país, mas uma maneira segura, seja com ônibus ou havendo uma trégua no conflito para que a gente possa voar e voltar para nosso país. A gente tem tentado contato todos os dias com a embaixada, pessoas próximas ao nosso presidente... É difícil, mas quando envolve família, e a gente longe de tudo e todos, realmente não sabe o que fazer. Mas estamos tentando ser conscientes para tomar uma atitude correta, dentro das informações que chegam.
Confira outros trechos da entrevista de Marlon ao Seleção SporTV:
Tiveram informação para deixar o país em algum momento?
– Neste exato momento a gente vive aqui no meio de informações confusas, pelo fato de você ter amigos nossos no Brasil trazendo informações, e a gente vivendo uma realidade completamente diferente. Às vezes as pessoas confundem nossa situação. Nosso momento é perturbador, sim. Existe uma tensão grande, outros cidadãos aqui conosco, da Itália, do Uruguai, todos tentando comunicação com seus países para ajudar de alguma maneira e conseguir um contato com a embaixada, que não falou e não decretou retirada brasileira de Kiev. O clube insistiu que voltássemos para a Ucrânia. Estávamos em pré-temporada na Turquia e insistiram que voltássemos para Kiev e hoje estamos sozinhos, treinador e jogadores. É uma situação delicada, estamos no hotel do clube, mas é delicado. O Junior teve de ir na rua e correu risco de vida. E outras pessoas também estão correndo risco de vida. Não temos segurança nenhuma, essa é a realidade.
Transferência para Ucrânia:
– No momento foi tranquila a decisão, porque o treinador que estava comigo vinha para Kiev também. Tinha esse apoio dele, tinham outros brasileiros aqui também. Eu me mantive calmo e, de verdade, em momento algum pensamos que poderia voltar a essa situação. Hoje está em Kiev, acontecer hoje é uma surpresa, mas não interfere no meu futuro, certamente acordando novos termos e guerras. No momento que os jogadores mais precisam, pessoas do clube nos deixam dentro do hotel. Houve insistência de cada jogador de voltar para o Brasil. É delicado.
Condições atuais e alimentação:
– O mantimento é uma coisa que começa a causar certas dores de cabeça. Temos de colocar nossas vidas em risco porque a qualquer momento as tropas russas podem estar entrando no hotel, estão se aproximando. Hoje comemos um pedaço de frango, salada e verdura. Ontem tínhamos comido macarrão, carne, peixe, tinha mais variedade. Hoje não temos. A tendência é ter pouco alimento em dois ou três dias. Já tem necessidade de fralda e leite para crianças recém-nascidas, estamos falando de crianças de três meses. É delicado.
Sensação de uma invasão iminente:
– A angústia é profunda, a gente está tentando contato com embaixada, seja brasileira ou italiana, para quando houver uma trégua ou um modo seguro de gente sair a gente consiga sair, de uma maneira segura. Imprimimos bandeiras do Brasil, da Cruz Vermelha, da Itália, para que caso necessário a gente entre num ônibus chegar a uma fronteira o mais rápido possível, certamente mostrando que não queremos guerra e que somos de outro país.
Apelo
– Gostaria de pedir para alguma pessoa da embaixada tome uma atitude oficial, que decretem a nossa situação do que a gente pode fazer, se alguém pode vir buscar a gente no hotel, algum ônibus para levar para alguma fronteira. E pedir entendimento das pessoas. Minha esposa recebeu comentários agressivos no Instagram, outras também falando que fomos avisados. Não fomos avisados. Insistimos em voltar para o Brasil e o clube falou que estava tudo bem enquanto estava tudo ao contrário. Esse é meu pedido, que a embaixada possa se posicionar de uma maneira oficial e as pessoas possam ter um pouco mais de sensibilidade. Não foi decretada a saída de brasileiros de Kiev, por isso que estamos aqui devido a situação do clube e da embaixada.