Há dois anos, Adriano Lorenzo Anjos de Souza, de 44 anos, lutava pelo direito de conseguir realizar gratuitamente a cirurgia de mastectomia. O processo exigiu paciência, idas e vindas de consultórios médicos, além da constante procura dos documentos necessários para levar as audiências. Recentemente, a trajetória de Adriano ganhou um novo capítulo com a decisão favorável do juiz.
Homem trans, Adriano aguardava desde 2019 por esse momento e a chance de fazer o procedimento. “Eu já tinha ciência de quem eu era e das mudanças que queria fazer. Na época estava fazendo tratamento através do plano da empresa, fui na consulta do hospital, solicitei o procedimento e eles falaram que o plano não cobria”, relata.
Ao procurar outros profissionais, o processo continuava o mesmo, assim como a negativa do hospital. Enquanto isso, o incômodo e as dores causadas pelos próprios seios continuavam. “Eu não aguentava mais, porque eu sentia dor, meus seios eram grandes, precisava enfaixar. Eu tinha medo de ser agredido na rua”, expõe.
Formado em direito, Adriano resolveu procurar a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul. Na instituição, ele encontrou um aliado, o defensor público, Pedro Luna Souza Leite. “O doutor Pedro pegou meu caso e eu agradeço muito, porque ele não desistia. Não aceitavam o laudo médico, o tribunal agravou duas vezes, tive que ir atrás de outro laudo, mas graças a Deus deu certo”, celebra.
Antes de ser liberado para fazer a mastectomia, Adriano fez durante anos o acompanhamento multidisciplinar e passou por diversas consultas com o psicólogo. “É só quando você termina o tratamento que você está apto a fazer a cirurgia. Isso é exigido pelo SUS”, explica.
Acolhimento - Desde a infância, Adriano comenta que sabia e entendia que se identificava com o gênero masculino. “Eu nasci assim, mas na época, quando eu era criança, meus pais não entendiam”, revela. Nos anos seguintes, ele viveu com a antiga identidade, casou e teve filhos.
Após as crianças crescerem, Adriano sentiu que finalmente poderia esclareceu aos filhos quem era realmente. “Quando eles ficaram maiores expliquei quem eu era e o que me deixaria feliz”, fala. Na ocasião, ele recebeu dos rapazes de 21 e 26 anos o acolhimento e compreensão que nunca veio dos demais familiares. “Foi algo novo, a chance de mostrar quem sou. Foi um amor tão genuíno, me deu forças, foi tudo para mim e o resto fui tentando conquistar”, declara.
Quando a decisão do juiz saiu, Adriano vibrou de felicidade junto aos filhos e à noiva. “Foi uma conquista enorme”, enfatiza. Integrando um grupo de homens trans, Adriano relata que é o primeiro a conseguir o direito de fazer a mastectomia gratuitamente. “Só quatro conseguiram fazer a cirurgia, mas a maioria teve que vender algum bem ou fazer empréstimo. Eu tô conseguindo de graça, é uma vitória muito grande”, ressalta.
Agora, Adriano precisa aguardar a consulta no hospital e esperar que marque a data da cirurgia. A expectativa é que o procedimento seja realizado ainda neste ano.
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