Em toda prática esportiva, o limite pessoal surge como principal adversário, seja para atletas amadores ou profissionais. E foi justamente para não se limitar ao nanismo que Vithória Papel, 29 anos, 1,36m de altura, decidiu se dedicar ao crossfit e participar de competições contra atletas sem nanismo, com algumas adaptações nas provas.

- Acredito que nem só para pessoas com nanismo, pessoas diferentes, que saem daquele senso comum, às vezes pessoas altas, acima do peso, muito magras, que têm vergonha, limitação. Recebo mensagens destes grupos, se a gente não tem uma restrição médica, tem de tentar, conhecer, eu que já praticava esporte, cheguei e não conhecia ninguém com nanismo fazendo crossfit. Sabia que tinha limitações, coisas que não conseguia fazer, adaptar, fui aberta, precisa abaixar a barra por causa da altura, mas levo na descontração a aceitação é o principal incentivo para você ir. Aceite-se, vá de cabeça aberta, entenda suas limitações, sou muito mais do que meu tamanho, é uma característica apenas, não o que sou, não me define. Meu cabelo é cumprido, característica apenas. Isso me fez quebrar barreiras, a gente muda alguma coisa, faço do meu jeito, para tudo na minha vida – disse Vitthy.

Natural de Bebedouro (SP), a crossfiteira, blogueira e também atriz sempre gostou de esportes. Em sua conta no Instagram, está perto da marca de 1 milhão de seguidores. Se dedicou às maratonas, chegou a concluir uma prova de 15km de Cross Country em Sertãozinho (SP) e chegou em uma colocação considerável diante da diferença de envergadura para as demais atletas.

Contudo, os treinos para corrida acabaram forçando-a a emagrecer demais, de 50kg, ela acabou caindo para 29kg. Foi então que decidiu deixar de lado os treinos de corrida, mas ainda não se sentia animada em fazer a academia tradicional. Então conheceu o crossfit e, segundo ela mesma diz, foi amor à primeira vista.

- Na infância gostava mais de dança, fiz ballet, jazz, sapateado. Na escola nunca fui de gostar de esportes. Minha irmã é personal trainer, aí comecei a fazer musculação, a correr, corri muito, todo dia. Disputei provas de 5km e 15km, de Bebedouro até Andes, terminei praticamente junta, teve gente que terminou atrás. Mas me alimentava mal, fazia metade do que a nutricionista pedia, hoje tenho 50kg, mas na época que cheguei em 29kg. Tive de fazer um tratamento psiquiátrico, psicólogo, aceitar, eu não enxergava quem eu era, procurei ajuda - disse Vitthy.

Mas o chamado do crossfit foi inevitável e, com ele, a evolução e a disputa de competições pela Crossfit Bebedouro. Ela lembra que só em alguns pontos o circuito de exercícios precisou ser adaptado ao seu tamanho.

- Disputei em Ribeirão Preto e Rio Preto, houve algumas adaptações de equipamentos, mas coisa pouca. O "burp" pula e tinha de bater a mão na barra, aí reduziram a altura da barra, uma caixa menor, mas o restante foi igual, até corrida percorri a mesma distância. Foi desvantagem, mas em outras coisas levo vantagem por ser menor, o burp, levantamento de peso, pois o movimento é mais curto no agachamento, faço mais rápido - explicou.

Ao se destacar mais pelo seu desempenho nas pistas de crossfit, Vitthy foi chamando a atenção nas rede sociais e ganhando cada vez mais seguidores. E assim conseguiu se destacar em projetos audiovisuais e começou a monetizar sua imagem e conquistar patrocinadores para apoiar seus treinos.

- Eu estou gravando com o pessoal do Tirulipa, sou da área do crossfit, é o meu nicho, mas sou atriz, por ser infuencer, tenho de procurar visibilidade. Estou me descobrindo, nunca me vi pelo lado da comédia, acabei atraindo um público diferente do crossfit. Passei pela Mansão Maromba, mais voltada para treino, atraiu um público masculino, mas está sendo interessante - revelou a atleta.

Mas ela afirma que não vai deixar o esporte de lado pela carreira no audiovisual. Entre um convite e outro para gravar, Vitthy revela que se desdobra para manter a rotina de treinos.

- Não me vejo mais sem, acostumei, é minha terapia, quando não estou treinando sinto essa falta. Ali esqueço de tudo, a competição é mais sobre mim do que com os outros. Quero ser melhor do que eu era ontem, pegar mais peso, isso é a motivação. Jamais afastar do crossfit, sou grata. Por ele me destaquei, consegui o que eu tenho, é o que gosto - explicou.

A exposição, contudo, gerou um problema que está se tornando comum entre os que vivem de redes sociais: roubo de conta. Ela sofreu um ataque hacker e perdeu a conta assim que largou o emprego que tinha na cidade de Bebedouro, em agosto de 2021, para dar conta dos treinos e da vida de influencer. Atualmente, ela tem cerca de 950 mil seguidores.

- Tenho uma conta reserva, com 10 mil, criei quando fui hackeada. Precisei recorrer à advogado, entrar na Justiça e consegui reaver minha conta. Quem me assessora é minha irmã, mas preciso tornar mais profissional, ter alguém que cuide mais desta área - explicou.

Por fim, a atleta deu um recado para as pessoas que acabam deixando a limitação ser um impeditivo para a prática esportiva. Vitthy frisou que, se houver liberação médica, todos devem procurar um esporte para chamar de seu.

- Todo mundo precisa de um esporte, uma válvula: dança, lutas, academia, tem de descobrir o que gosta e focar naquilo, tanto para o bem físico, emagrecer, definir, até para o bem psicológico. Não importa se é dentro do padrão, gordo, magro, alto, baixo. Tem de pensar primeiro em você e correr atrás do que faz bem, o crossfit agregou seguidores e autoestima, confiança, tudo o que sou - finalizou.