Com atividades suspensas desde agosto do ano passado, por conta do baixo nível do Rio Paraguai, os portos de Mato Grosso do Sul voltaram a operar.
O terminal portuário da empresa FV Cereais, por exemplo, tem contratos para movimentar 400 mil toneladas de grãos no ano e iniciou ontem o primeiro carregamento de 20 mil toneladas de soja para os portos argentinos.
O volume de cargas depende do calado do rio, que chegou a 3,6 metros no dia 2 e começa a declinar com a falta de chuvas, chegando à cota de 2,7 m – nível de restrição para grandes comboios.
Mesmo assim, o terminal projeta três embarques em fevereiro, com um total de 60 mil toneladas, com destino aos portos de San Lorenzo e Timbues, na província argentina de Santa Fé. A movimentação de caminhões começou no fim de semana.
O volume das exportações pela zona portuária de Porto Murtinho cresceu 57,83% no acumulado de janeiro a dezembro de 2020, em relação ao mesmo período de 2019, em função da entrada em atividade do terminal FV Cereais e do incremento nas estruturas da Agência Portuária de Porto Murtinho (APPM), primeiro porto alfandegado.
Foram escoadas 384 mil toneladas, sendo 250 mil pela FV Cereais. Em 2019, foram 233 mil toneladas.
A participação dos terminais portuários do município no escoamento das exportações de Mato Grosso do Sul passou de 1,49%, em 2019, para 2,12%, no ano passado, mesmo com as dificuldades de navegabilidade em razão da seca no Pantanal.
A navegação comercial na região foi suspensa em agosto de 2020, quando o nível do Rio Paraguai foi inferior a sete pés (2,1 metros). A FV Cereais tinha como meta a exportação de 500 mil toneladas.
Apesar das condições de navegabilidade pela hidrovia, o cenário que se vislumbra tornará Porto Murtinho o centro logístico da América do Sul, com perspectiva de instalação de três novos terminais.
Na semana passada, o governo do Estado iniciou tratativas com o grupo PTP, do Paraguai, que adquiriu área ao lado da FV Cereais e hoje opera com sete terminais na Argentina. A cidade também se tornou o centro operacional da futura Rota Bioceânica.
“O Brasil e o mundo olham [Porto] Murtinho como a melhor alternativa logística. A região deixou de ser o fim ou o começo de linha para ser estratégica no escoamento de nossas riquezas”, diz o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Os investimentos do Estado na região, como a implantação do acesso pavimentado aos portos, de R$ 25 milhões, “concretizam o sonho lá atrás, de integrar o continente”, ressalta Eduardo Riedel, secretário de Governo e Gestão Estratégica (Segov).
Áreas improdutivas e de pastagem estão sendo ocupadas por soja e milho na região sudoeste de Mato Grosso do Sul, avançando nas margens da rodovia BR-267 em direção a Porto Murtinho.
O município, antes isolado na fronteira com o Paraguai, passa a contar com infraestrutura portuária que barateia os custos de logística, encurta distâncias e agrega valor aos produtos exportados para o mercado internacional pela hidrovia do Paraguai.
Segundo dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), em um ano, 250 mil hectares na região foram incorporados para a agricultura.
As lavouras de soja se estendem de Jardim, a 120 quilômetros de Porto Murtinho, até a região serrana. Armazéns graneleiros foram instalados na beira da BR-267, a rodovia da Rota Bioceânica, em terras onde o boi era soberano até recentemente.
“A expansão da agricultura ocorre compartilhada com a pecuária, fortalecendo assim duas atividades que sustentam o nosso agronegócio”, afirma Jaime Verruck, titular da Semagro.
O movimento de caminhões boiadeiros pela rodovia federal foi superado pelo comboio de bitrens carregados de grãos em direção aos portos de Porto Murtinho. Na mesma via, é comum o tráfego de implementos agrícolas, como colheitadeiras, adquiridos pelos novos produtores.
A expansão da nova fronteira agrícola é resultado de uma política voltada à implementação do transporte fluvial por uma hidrovia estratégica para garantir competitividade aos produtos primários de Mato Grosso do Sul.
Os incentivos fiscais atraíram investidores e tornaram Porto Murtinho um grande hub logístico da América do Sul, ou seja, um importante centro de exportação e importação do continente.
“Nas últimas décadas, o Brasil virou as costas para o Rio Paraguai, que concentrou no início do século passado um grande movimento comercial com os países vizinhos e com a Europa”, afirma o governador.
“Hoje estamos vivenciando um novo desenvolvimento hidroviário na região, garantindo competitividade ao Estado e um ganho extraordinário aos nossos produtores, com redução de até 40% no custo do frete”, conclui Azambuja.
Jaime Verruck observa que a viabilização da nova rota natural de escoamento de commodities, com o setor produtivo se livrando dos gargalos logísticos e aduaneiros nos portos de Paranaguá e de Santos, é resultado de uma ação de governo, ao lançar em 2015 o Programa de Estímulo à Exportação ou à Importação pelos Portos do Rio Paraguai (Proexp).
O Estado ofereceu incentivos fiscais e atraiu novos investidores para a hidrovia.
“Os resultados vêm sendo colhidos ao longo desses anos, com a intensificação dos embarques e a entrada em funcionamento de novos terminais. Porto Murtinho se tornará a nova Paranaguá, com a projeção de três novos portos em processo de licenciamento”, afirma o secretário.
Verruck destaca os investimentos do Estado em infraestrutura no município e a pavimentação de rodovias que integram o corredor do agronegócio em direção à fronteira.
*Correio do Estado
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