O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2022 será divulgado nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com economistas consultados pela CNN, o resultado anual deve trazer um número bom, na faixa dos 3%. No início do ano passado, as projeções falavam em um crescimento próximo de zero.
Detalhes dos dados, porém, como o crescimento no último trimestre ou o desempenho de alguns segmentos, devem confirmar a expectativa de desaceleração da economia que já começou a acontecer nos últimos meses de 2022 e que deve se consolidar em 2023.
Para o quarto trimestre, as estimativas são de um número bem perto do zero considerando o resultado do terceiro trimestre, que também já tinha crescido menos.
“Não é que está escrito nas estrelas, mas está mais ou menos escrito nas estrelas: vamos crescer pouco em 2023”, diz o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fábio Silveira. “Temos uma taxa de juros cavalar; os juros reais devem girar em torno dos 7,2% neste ano. Isso já pesou no crédito das famílias no ano passado e vai continuar pesando neste.”
Isso, explica o economista, deve enfraquecer o consumo, um dos principais motores da economia em 2022, que conseguiu avançar graças a alguns setores que cresceram enquanto outros ficaram para trás. A estimativa da MacroSector é de um PIB de 2,9% em 2022 e de 1% em 2023.
“O crescimento de 2022 foi bastante puxado pelo setor de serviços, que cresceu 8,3%, e por alguns segmentos do agronegócio, como milho, café e cana”, diz Silveira. “Já o varejo teve um avanço muito discreto, de 1%, e a produção industrial contribuiu negativamente, ela caiu 0,7%.”
Para a economista-chefe do HSBC, Ana Madeira, parte importante da história será contada pelo desempenho do consumo privado e dos investimentos no PIB do ano passado, e em quanto eles podem desacelerar.
“O consumo privado é a maior parte do PIB, e o investimento, embora seja uma parcela pequena, tem impacto importante na geração de emprego”, disse ela.
“O consumo privado tem mostrado uma desaceleração contínua e que vem se acentuando. Ele cresceu 5,7% no segundo trimestre [na comparação anual] e, no quarto trimestre, já deve crescer 3,1%”, acrescenta.
No primeiro trimestre de 2023 a expectativa do HSBC é que esse número seja ainda mais reduzido, para uma alta de apenas 1%. A desaceleração é resultado, principalmente, do efeito das altas dos juros, que, depois de uma escalada forte e rápida, chegaram aos 13,75% em agosto do ano passado.
O Banco Central vem mantendo a taxa Selic nesse patamar desde então, mas deve ser a partir do começo deste ano que os efeitos recessivos deles devem começar a pesar plenamente sobre a economia.
“Há uma defasagem no impacto do aperto monetário sobre a economia real de até cinco ou seis trimestres”, diz Madeira. “Então, se olharmos o momento em que o Banco Central começou a subir juros e quando eles começaram a ficar de fato restritivos, estamos falando de algo entre o quarto trimestre e o primeiro trimestre deste ano, para termos o peso completo desse ajuste.”
Nas contas do HSBC, o PIB cresceu 2,9% em 2022, com um avanço de 0,1% no quarto trimestre. Em 2023, deve crescer 0,7%.
Para o diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, fatores como uma recuperação rápida do mercado de trabalho e também uma retomada mais forte do que o esperado na saída da pandemia ajudaram a tornar o PIB de 2022 mais robusto.
“Mas isso ficou para trás”, diz, “o que temos pela frente é um cenário bem mais difícil para o crescimento por várias razões.”
A expectativa do Goldman Sachs, mais otimista que a média, é de um crescimento de 1,5% em 2023, depois de uma alta próxima dos 3% em 2022.
“Dá para ter um ‘pibizinho’ acima de 1% neste ano, mas o crescimento será claramente mais modesto, porque o crescimento fácil, de recuperação ou normalização da economia, já aconteceu”, diz Ramos.
“Já recuperamos aquilo que perdemos na pandemia. Não há mais milhares de pessoas desempregadas e as empresas não estão mais operando com uma margem de utilização muito baixa. Uma vez que se exauriu essa margem de ociosidade, fica mais difícil crescer mais de 2%, e o Brasil vai ter que encontrar das pedras um crescimento mais robusto.”
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