O plano que previa um ataque do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) foi delatado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) por um ex-integrante da facção criminosa, que está jurado de morte.
Nesta quinta-feira (23), a CNN teve acesso ao processo que pediu a prisão dos suspeitos de estarem envolvidos no planejamento dos ataques contra o ex-juiz da operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Imagens anexadas ao processo mostram mensagens com os codinomes que seriam usados pela organização criminosa e dão a entender que um plano contra Moro seria colocado em ação durante as eleições de 2022.
O ex-traficante que fez a delação ao MP-SP foi colocado no sistema de proteção a testemunhas.
Uma das primeiras informações repassadas foi a indicação de quem seria o “cabeça” do plano. A coordenação de toda a ação foi atribuída a Janeferson Aparecido Mariano Gomes, também conhecido pelas alcunhas de NF, Nefo, Artur e Dodge. Ele seria o chefe nacional da “sintonia restrita”, que funciona como um centro de inteligência e execuções de autoridades pela organização.
De acordo com a testemunha, NF estaria encarregado de levantar informações e sequestrar o ex-juiz. Quatro números de celular de pessoas próximas ao traficante foram entregues às autoridades. O monitoramento começou a partir da quebra dos sigilos telefônico e de mensagem dos aparelhos.
“O histórico criminal do depoente protegido e o fornecimento de dados simples, mas comuns em troca de informações do meio criminal [terminais atualizados para contatos momentâneos], levaram a instauração de inquérito policial para o aprofundamento de pesquisas em bancos de dados e diligências de campo”, relata a Polícia Federal em uma das representações enviadas à Justiça Federal na investigação.
A retaliação ao senador teria sido motivada por mudanças nas regras para visitas a detentos –Moro proibiu as visitas íntimas em presídios federais quando era ministro da Justiça e Segurança Pública. Como ministro ele também coordenou a transferência e o isolamento dos “cabeças” da organização criminosa nos presídios de segurança máxima.
As informações referentes ao plano contra Moro foram divulgadas na última quarta-feira (22) após a deflagração da operação Sequaz, que prendeu nove pessoas supostamente envolvidas no planejamento.
A juíza responsável pelo processo é Gabriela Hardt, da 9ª Vara Federal de Curitiba. Foi ela quem substituiu Moro na Operação Lava Jato quando o então juiz pediu exoneração do cargo, no final de 2018.
A divulgação do plano gerou um bate-boca público entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-juiz. Logo pela manhã, o petista afirmou suspeitar que o plano fosse uma “armação” de Moro.
“Eu não vou falar porque eu acho que é mais uma armação do Moro. Mas eu quero ser cauteloso e vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro, mas eu vou pesquisar e ficar sabendo da sentença”, disse Lula.
Mais tarde, em entrevista à CNN, respondeu com duras críticas ao petista: “Quero perguntar ao senhor presidente da República: O senhor não tem decência? O senhor não tem vergonha com esse seu comportamento? O senhor não respeita a liturgia do cargo? O senhor não respeita o sofrimento de uma família inocente? O senhor não respeita o combate que os agentes da lei, e aqui eu me incluo, como ex-ministro da justiça e, antes, juiz, o combate que nós fizemos ao crime organizado.”
(Com informações do Estadão Conteúdo)