A chegada do tempo seco e o aumento de queimadas são dois fatores que interferem no índice de qualidade do ar em Campo Grande, especialmente entre os meses de junho e setembro, aponta o pesquisador Dr. Hamilton Germano Pavão, do Instituto de Física da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
De acordo com Hamilton, esse padrão já é conhecido e tem sido monitorado há dois anos pelo Projeto QualiAr, do Instituto de Física da UFMS, por meio da central de monitoramento localizada na entrada da Cidade Universitária, na Avenida Costa e Silva.
“Em relação às mudanças nos últimos dois anos, não houve uma alteração significativa, mas temos um padrão observado. Por exemplo, nos meses de fevereiro, março e abril, geralmente a qualidade do ar é boa, pois depende da chuva, que ajuda a purificar o ar. No entanto, de julho a setembro, a qualidade do ar é comprometida. Esse padrão já é conhecido há muito tempo”.
Segundo ele, o material particulado, principal poluente atmosférico utilizado como parâmetro para a análise da qualidade do ar, é uma poeira poluente composta por partículas extremamente tóxicas.
No começo do mês de junho, Campo Grande atingiu um nível considerado “bom”, registrando apenas 10 µg/m3 (microgramas/metro cúbico), sendo que o valor máximo considerável aceitável é 40 µg/m3. “A qualidade do ar está boa neste momento, porque acabou de chover”, explica Hamilton.
O pesquisador aponta que a Capital do Mato Grosso do Sul apresenta uma qualidade do ar considerada boa, se comparada às grandes metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Entretanto, a cidade sofre com o agravante das queimadas, que têm aumentado consideravelmente e afetam a qualidade do ar de forma diferente. “Aqui nós temos influência das queimadas, que ocorrem no próprio contexto urbano, e dos veículos. Os dois produzem o material particulado, que é extremamente tóxico e prejudicial ao ser humano”.
Aqui em Campo Grande, infelizmente, é comum as pessoas colocarem fogo em terrenos, o que é prejudicial para a qualidade do ar. Portanto, é importante ter uma fiscalização mais intensa nesse sentido”, explica Hamilton.
Diante desse cenário, Pavão destaca a importância de conscientizar a população sobre os danos causados pelas queimadas e a necessidade de políticas públicas para enfrentar essa questão. “Essa interação entre os dados de qualidade do ar e a questão das queimadas pode nos ajudar a adotar medidas para diminuir cada vez mais os casos de queimadas. Divulgando esses dados, as autoridades devem agir com mais vigor e conscientizar a população sobre os danos causados pelas queimadas”.
Em casos de alto nível de poluição durante períodos críticos, Hamilton aponta que é fundamental comunicar imediatamente às autoridades responsáveis. “Medidas como o rodízio de veículos, já adotadas em São Paulo, podem ser implementadas para enfrentar a poluição atmosférica”.
Proteção - A preocupação com a qualidade do ar em Campo Grande deve ser constante e não apenas restrita aos pesquisadores, é o que defende Hamilton. Segundo ele, é importante conscientizar a população sobre os riscos da exposição ao material particulado.
“Para você ter ideia, um grão de areia mede cerca de 500 micras, essa partícula mede 2.5 micras. Então é uma partícula bem pequena. Essas partículas são depositadas em superfícies, mas nós também podemos inalar e acabar indo direto para o pulmão. E detalhe, elas são extremamente tóxicas”, explica o pesquisador da UFMS.
Hamilton destaca que a queima de óleo diesel, presente nas partículas finas emitidas pelos veículos, é um dos principais responsáveis pela poluição do ar. Ele ressalta que essas partículas são depositadas em superfícies, mas também podem ser inaladas, afetando diretamente a saúde respiratória. “Doenças pulmonares, como a asbestose, são exemplos dos danos causados pelas partículas inaláveis”, ressalta.
Além da poluição ocasionada pelo aumento das frotas de veículo e pelas queimadas, como é o caso de Campo Grande, a população precisa começar a adotar medidas de proteção individual, como o uso de máscaras em ambientes com poluição do ar, como pintura ou lixamento de superfícies. “Parece ser algo insignificante, mas quando um pintor vai à sua casa e lixa a parede sem usar uma máscara, aquela poeira é perigosa, composta por partículas finas. Isso tudo tem influência na qualidade da saúde”, explica Hamilton.
Expansão do projeto - Com trabalhos ativos desde março de 2021, a equipe do Projeto QualiAr é composta por cinco professores e pesquisadores, além de dois alunos de pós-graduação.
Atualmente, a estação monitora três elementos: a qualidade do ar, a qualidade da água da chuva e dados meteorológicos, como umidade relativa, temperatura e probabilidade de chuva. O foco atual do projeto é adquirir um aparelho que possibilite o monitoramento da emissão de gases, explica Hamilton.
“Aqui em Campo Grande, somos os únicos. No entanto, em São Paulo, a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) tem estações de monitoramento em todo o estado. Seria ideal termos mais estações de monitoramento, mas, infelizmente, os equipamentos são muito caros. Nossa estação aqui é pioneira, e esperamos poder expandir no futuro, talvez para outros campi da UFMS”.
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