Prestes a completar um mês da Operação Abre-te Sésamo, que apura crimes praticados por moradores da obra invadida conhecida como Carandiru, na Mata do Jacinto, a Polícia Civil irá concluir pelo menos 8 inquéritos, envolvendo 13 pessoas em tráfico de drogas. Nessa lista, está “Teka”, a chefe do crime organizado no local.
“Semana passada já concluímos alguns inquéritos, o resto será entregue até o dia 6”, explicou a delegada Priscilla Anuda, da 3ª DP (Delegacia de Polícia), referindo-se aos casos de flagrante de tráfico de drogas. A data está no prazo legal de 30 dias para encerrar investigação e, nestes casos, serão entregues no período.
Para os inquéritos que envolvem os mandados de busca e apreensão, a delegada irá pedir dilação do prazo. Priscilla explicou que ainda é preciso entrar em contato com as vítimas de roubo ou furto, para que possam ir à delegacia, identificar e recuperar os objetos. Depois disso, a Polícia Civil fará o indiciamento dos receptadores. Preliminarmente, foi informado que três já foram identificados.
A operação contou com 273 policiais para cumprir 46 mandados de busca e apreensão. Na ocasião, foram encontradas drogas, armas, munições, dinheiro e identificados, até agora, ao menos três receptadores. Os produtos furtados, em bairros vizinhos, eram trocados por drogas no local. Foi descoberto também que um dos apartamentos era usado para a prática de homicídio e tortura.
Segundo a delegada, foram dois meses de planejamento com base numa investigação cautelosa e cuidadosa, que começou no ano passado. Os mandados foram para todos os imóveis porque muitos apartamentos haviam sido alterados. “A estrutura foi toda modificada. Teve apartamento que foi transformado em dois ou em um. O acesso pela força policial foi dificílimo”, destacou.
O condomínio tinha até uma “chefa”, que foi apontada como dona de ao menos 12 apartamentos. Conhecida como Teka, Cleria Mari Souza de Lima, 44 anos, se intitulava como “Xerifa”. Ela foi presa com o marido Rosivaldo Pereira e outras oito pessoas. Segundo a delegada, Teka comandava as ações criminosas do local.
Nas buscas no apartamento do casal, foram encontrados revólver, munições, porções de pasta base de cocaína, dinheiro em espécie, moedas e vários tabletes de maconha. Foram apreendidos ainda objetos sem origem comprovada. Conforme a investigação, o casal torturava e mantinha em cárcere quem desobedecesse as regras locais e Teka controlava quem entrava e saía do condomínio.
Ainda conforme Priscilla, o objetivo da operação era colher elementos de provas para subsidiar posterior processo criminal. “Tivemos êxito na ação. Nós angariamos droga e armas, tudo que a investigação apontava. Encontramos no apartamento do último bloco fezes e sangue, local que era chamado de disciplina, usado para torturar integrantes do grupo que não obedeciam a ordem da chefe”.
A delegada pontuou também que o objetivo da operação foi atingido plenamente e sem nenhuma intercorrência. “A gente não precisou agir de forma mais energética”. O planejamento da equipe policial com apoio do Corpo de Bombeiros levou em conta outras abordagens da polícia no local, que foi recebida a pedradas e a tiros.
Além dos bombeiros, a ação contou com a Perícia Técnica, Defesa Civil, assistência social e Defensoria Pública. “A maioria dos moradores dali era alvo da investigação. Por isso montamos esse aparato todo, com receio de revide”, explicou a autoridade policial.
A assistência social fez o levantamento de 23 famílias que vivem no condomínio, a maior parte é da família de Teka, segundo a delegada. “A gente verificou que se trata de uma organização criminosa por parte da Teka e de sua família, com tarefas definidas e delimitadas, que cumpre o comando montado conforme a hierarquia”, afirmou.
De acordo com a polícia, houve diminuição dos registros de furtos na região, mas os números oficiais ainda serão divulgados. "Cumprimos nossa missão, trouxemos elementos de provas que precisávamos para o inquérito policial. Fizemos tudo de forma legal. As pessoas que residem lá têm direito de ir para outro local com estrutura segura".
De acordo com a delegada, muita gente que invadiu o imóvel na época não reside mais no condomínio e aluga o apartamento, em média, por R$ 300 para outras famílias. “A gente tem isso em oitivas. Elas pagam aluguel para estar ali. As pessoas preferem morar ali porque o aluguel é acessível e a região bem localizada”, disse.
Moradores do entorno do condomínio comemoraram a operação policial no Carandiru que segundo a polícia virou "centro de criminalidade", com registro de venda de drogas, armas e homicídios. "Tinha muito furto e roubo aqui", disse uma aposentada de 73 anos, no dia da ação policial.