Uma parte remota do Pantanal sul-mato-grossense, já onde o Estado se aproxima da divisa com o vizinho Mato Grosso, a Serra do Amolar parece uma pintura, um paraíso. Uma morraria que se estende e se destaca no meio do entorno plano, a exuberância do Rio Paraguai, que vai serpenteando, o verde da vegetação, as cores dos ipês e dos bichos. É um destino ainda pouco explorado, mas se depender da Fundação de Turismo, ele deve ganhar mais espaço na rota de viajantes.
O Governo Estadual lançou um edital para selecionar entidade que faça iniciativas de divulgação, levando profissionais do turismo, jornalistas e influenciadores, buscando criar mais uma rota de passeio, além do turismo de pesca e dos passeios já consolidados de Bonito e região. Atualmente, há poucas pessoas que conseguem chegar à Serra do Amolar, por ser inóspita e com estrutura limitada. Mas a aposta é que o aumento do interesse pelo local possa permitir a ampliação da condição de hospedagem e até mesmo acesso.
Para se chegar ao Pantanal da Serra, é preciso seguir por cerca de seis horas de embarcação a partir de Corumbá, navegando contra a correnteza do rio, que desce rumo ao país que lhe dá o nome. No percurso, o turista verá bichos, passará por fazendas, unidades de conservação, verá ribeirinhos, vai ver iniciativas de preservação e pesquisa.
O turismo de experiência, como descreve o presidente do Instituto do Homem Pantaneiro, Ângelo Rabelo, deve ganhar espaço na região, que se consolidou com as viagens de pesca. Tanto que não há oferta de passeios o ano todo nos barcos-hoteis. As embarcações ficam reservadas ao turismo de pesca e só oferecem cruzeiros de contemplação da natureza quando é época de piracema e a pesca fica proibida, de novembro a fevereiro, exatamente na época da cheia dos rios, quando o ecossistema fica especialmente bonito.
Fora essa opção, existe a Amolar Experience, uma parceria do Instituto com uma empresa paulista, Pure Brasil, que forma grupos a cada época. Para setembro, devem ocorrer duas viagens, uma delas já estava com o grupo fechado, e outra está sendo planejada para outubro. Isso porque se tratam de turmas pequenas, que precisam se hospedar em duas fazendas antigas, Acorizal e Novos Dourados, com 45 minutos de distância de barco, que abrigam projetos de preservação e têm poucas acomodações.
O diretor do projeto, Giancarlo Valias, conta que a estruturação do passeio começou em 2020, com grupos partindo em agosto de 2021. Conforme ele, o começo foi exatamente levando grupos de divulgação, o que repercutiu muito, comenta. Valias menciona o interesse internacional, mas também muitos brasileiros, que gostam de contemplar a natureza e interessados em “novidades”.
Recentemente, Rabelo viajou com um grupo de sul-africanos. Levou-os para conhecer os índios guatós, a produção de artesanato local, a comunidade Barra do São Lourenço. O encantamento dos visitantes e a repercussão motivam RabelEle acredita que a maior visibilidade e interesse pelo destino podem incentivar pantaneiros da região a criar acomodações para receber turistas e mesmo oferecer experiências para quem visita o local, no percurso de barco. Muitos já estão de olho nesse movimento, segundo ele. Um movimento que vai se estruturando para poder ampliar o acesso ao roteiro.
Defensor do ecossistema de longa data, Rabelo define como um turismo diferenciado, com “alta produção de natureza”. O turista que visita pode ver onças, ariranhas e mais uma infinidade de espécies da fauna.
Já Valias conta que quem participa do Amolar Exeprience pode fazer trilhas, subir na morraria e ter uma perspectiva da exuberância da natureza a 400 metros de altura.
Parada em Corumbá- Viabilizar a Serra do Amolar como um roteiro deve ter como pré-requisito uma parada em Corumbá, para conhecer a história local e estimular o turismo local. Cidade de 244 anos, estratégica na época em que as viagens se davam pelo Rio Paraguai, Corumbá tem prédios antigos e uma rica história. Por ali, passaram desbravadores indo e vindo do Norte. Mato Grosso, em especial Cuiabá e Diamantino, tiveram período de destaque na época colonial com a descoberta do ouro e diamantes.
Além de conhecer mais dessa história, também é possível ver de perto da vida dos “índios canoeiros”, os guatós. Como conta Luis Alfredo Marques Magalhães em seu livro Rio Paraguay, os antepassados eram avessos aos não indígenas, chegavam a guerrear com as caravanas que passavam embarcadas pelo rio. Depois, passaram a manter relações amigáveis. A escolha pela Serra do Amolar para se fixar permitiu considerável isolamento.
Conforme o autor, passaram a surgir casas de alvenaria e até energia solar, mas ainda se vê cabanas de chão batido e cobertura de folhas de bacuri, a mesma palha usada para as cestarias que os guató confeccionam.
Tanto pra se ver, mas ainda um roteiro distante da maioria. Os cruzeiros nos barcos-hotéis duram em média 5 dias e custam cerca de R$ 5 mil em acomodações compartilhadas. No caso do Amolar Experience, parte da receita fica para projetos locais de proteção e preservação.
Quanto à iniciativa do Governo, Diego Garcia Santos, diretor executivo da Fundação de Turismo, o propósito é incentivar a divulgação do que houver de valor para a atividade, incluindo a cultura, o artesanato, e que ajude a promover o destino.
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