No tempo que o trem cruzava os trilhos na Avenida Fábio Zahran, Laurentino Martins e Iraci Martins recebiam os casais que lotavam os quartos do Motel Oba Oba. Depois de 44 anos com as portas abertas, o estabelecimento está à venda por R$ 1,5 milhão.
A placa de vende-se passa quase despercebida na fachada do motel, mas ela está ali há cerca de três meses junto com os telefones de contato dos proprietários. Algumas pessoas fizeram proposta, ofereceram terreno, carro, porém nada de R$ 1,5 milhão.
Localizado numa esquina, o imóvel antes de ganhar os 14 quartos era usado de estacionamento para ônibus. Inspirado em um amigo que investiu no ramo de motéis, Laurentino comenta que decidiu ter um também.
“Comprei aqui e coloquei uns ônibus que tinha e trouxe de Maracaju. Aí acabei com isso (ônibus) e depois comecei a construir o motel. Construí uma parte, depois construí mais, mas o ‘Chega Mais’ é muito mais antigo. Através da ideia do finado Rafael que eu também parti pro motel”, fala.
Nos primeiros anos, o motel esteve no auge, marcado pela presença constante de clientes entrando e saindo nas 24h de funcionamento. “O motel abri em 1979, mas abri firme em 1982. Tinha muito movimento, época do auge que chegava a atender 1.500, 1.600 casais”, recorda.
Na década de 1970 e 1980, o trem passava em frente ao lugar, que ganhou um apelido que pegou mais que o nome ‘Oba Oba’. Laurentino solta uma risada quando pergunto se tudo ali tremia e em seguida responde seriamente. “O trem quando passava aqui dava realmente um tremor, eram 30, 40 vagões. O pessoal apelidava de treme-treme, muita gente falava: ‘É o Oba Oba? Não, é treme-treme”, explica.
Além de ter sido bem frequentado, o motel rendeu histórias para clientes que vez ou outra compartilham alguma lembrança do lugar com os donos. Iraci cita uma dessas histórias. “Tem gente que fala que foi feito aqui, que foi o primeiro motel que veio na vida”, diz.
Apesar da popularidade que o ponto tem na região e entre clientes de longa data, Laurentino reconhece que o Oba Oba não é mais como antes. “Eu tinha freguês aqui desde que abriu as portas, hoje não está mais aqui porque já morreu. Tem gente que se adapta a vir ao local porque já conhece. Eu tenho freguês que é antigo, só que já caiu muito e eu não quero mais", destaca.
O motel também não funciona mais 24h por dia e sequer abre aos domingos. O horário de atendimento é um reflexo da disposição do proprietário que admite estar cansado do trabalho que o motel exige.
“Nós estamos cansados, tocamos há quarenta e poucos anos. O ponto é muito bom, mas não quero mais. Eu tô com quase 80 anos, ela (Iraci) já ficou hospitalizada, eu tô com um problema no pulmão”, afirma.
Estrutura - O espaço tem 14 quartos com camas de casais, televisões e banheiros. A diferença entre os quartos simples dos demais é apenas a presença do ar-condicionado. Os quartos com esse equipamento custam R$ 30, enquanto os que têm apenas o ventilador saem R$ 25. A diferença de valor é irrisória, porém tem cliente que prefere o simples.
Os quartos são do mesmo tamanho e a estrutura da cama é feita de concreto. A decoração também destoa, pois alguns desses ambientes são marcados por cores quentes, como o laranja, e outros seguem a linha neutra.
Um detalhe interessante são os lençóis e a fronha que trazem o nome do empreendimento e o desenho de uma mulher. “Motel Oba Oba” está escrito no material com letras estilizadas que parecem ter saído do caderno de caligrafia.
Na Vila Valparaiso, o Oba Oba está com os dias contatos prestes a chegar ao fim. Laurentino já decretou o destino do estabelecimento. “Se eu não vender, vou fechar”, pontua.
Mín. 22° Máx. 37°