A Câmara Municipal de São Paulo informou à CNN que a retirada de assinaturas de vereadores do pedido de criação da CPI das ONGs, que tem como um dos alvos o padre Júlio Lancellotti, é simbólica e não impede a análise de líderes da Casa.
“A CPI foi protocolado em dezembro com as assinaturas necessárias. Só o autor pode pedir a retirada da CPI. A retirada de assinaturas de vereadores, portanto, é algo simbólico e não impede o próximo passo que é analisar a questão em colégio de líderes. Se houver consenso no colégio, o assunto vai ao plenário. Lá são necessárias duas votações; a primeira para aprovar a criação de uma nova CPI na Câmara Municipal de SP e a segunda para criar e instalar a CPI das ONGs. Ambas necessitam 28 votos”, comunicou em nota a Câmara Municipal.
Na última semana, sete vereadores decidiram retirar o apoio ao pedido de abertura da CPI, que só deve ser analisado após o fim do recesso parlamentar, em fevereiro.
O pedido de retirada veio após o anúncio de a CPI pretende mirar as investigações acerca da atuação do padre Júlio junto a ONGs que prestam apoio à população em situação de rua no centro da cidade.
Os vereadores que optaram por retirar o suporte à CPI são:
Nas redes sociais, Thammy Miranda afirmou que o nome do padre Júlio Lancellotti não foi mencionado – direta ou indiretamente – no pedido de CPI.
“E reitero a vocês, já solicitei a minha assessoria jurídica para fazer imediatamente a retirada do meu apoio, pois se o intuito desse projeto é atacar o padre Júlio Lancellotti não tem meu apoio”, expressou Miranda.
Uma outra fonte da Câmara de São Paulo confirmou a informação de que o requerimento de instalação da CPI não citava o pároco e dizia apenas que a Comissão pretendia investigar um suposto mau uso de recursos públicos por parte de ONGs.
O vereador Sydney Cruz (Solidariedade) também se pronunciou pelas redes sociais acerca do assunto e afirmou ter muita “admiração, carinho e gratidão pelo padre Lancellotti”. A partir disso, solicitou a retirada de apoio à CPI.
O vereador Xexéu Tripoli (PSDB) afirmou à CNN que investigação de casos de suposto mau uso de recursos públicos não pode servir de pretexto para perseguição política.
“Não concordo com o rumo que esta CPI está tomando mesmo antes da sua instalação”, comunicou o parlamentar.
Já a vereadora Sandra Tadeu (União Brasil) informou ser a favor de uma CPI ampla e que ouça as ONGs e o poder público municipal, estadual e federal e não de uma CPI para investigar o padre Júlio Lancellotti. Ainda ressaltou que “os vereadores têm o papel de fiscalizar essas ONGs”.
O pedido de criação da CPI foi protocolado em dezembro pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil) e deve ser analisado após o fim do recesso parlamentar, em fevereiro.
Na justificativa, o vereador afirma que a CPI buscará “examinar as atividades desempenhadas e se elas estão sendo executadas de maneira satisfatória” pelas ONGs que atuam na região da Cracolândia, na região central da capital paulista.
Embora o requerimento não cite nenhuma entidade, Nunes disse à CNN que, inicialmente, serão investigadas duas organizações: o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (Bompar) e a Craco Resiste.
O vereador acrescentou que, além delas, também devem ser examinadas “todas as outras que atuam ali no centro que, na minha leitura, compõem a máfia que explora a miséria no centro de São Paulo”.
O parlamentar citou ainda a atuação do padre Júlio.
“Ele capitaneia tudo isso, então ele é uma figura que vai ser convocada tão logo a CPI seja instalada”, disse Nunes na ocasião.
Em entrevista à CNN na última sexta-feira (5), o padre Júlio rebateu o termo “máfia da miséria”, utilizado pelo vereador Rubinho Nunes (União-SP) para se referir às entidades que atuam na região da Cracolândia, na capital paulista.
“Eu acho que é ‘máfia da miséria’ quem abandona o povo, máfia da miséria é não ter remédio nas Unidades Básicas de Saúde e nas UPAs; ter tanta gente com o Cad suspenso e bloqueado; máfia da miséria é o povo ter que dormir na rua”, afirmou.
A avaliação do padre é de que os termos utilizados pelo parlamentar em declarações à imprensa “são palavras de efeito que querem causar impacto”.
“Na verdade, elas não dizem claramente o que é que quer dizer isso. ‘Lucro político’? Eu não sou candidato, não sou político, não tenho cargo político, que lucro político eu posso ter? Na verdade, inclusive toda essa agressão que eu estou recebendo não é lucro político nenhum.”
*Com informações de Mathias Brotero, da CNN, em São Paulo