Pesquisa inédita revelou presença uma substância que pode causar câncer em pontos do rio Santo Antônio, que é manancial de abastecimento do município Guia Lopes da Laguna, como também afluente do rio Miranda, um dos principais da bacia pantaneira de Mato Grosso do Sul.
A substância encontrada foi o Carbenzadim, um agrotóxico que está com a utilização proibida no Brasil, desde 2022. Os dados do Relatório de Resíduos de Agrotóxicos no Rio Santo Antônio foram apresentados nesta sexta-feira (22), pela Ong SOS Pantanal no dia Mundial da Água em um evento realizado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
O biólogo e diretor de Comunicação e Engajamento do SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa, acredita que provavelmente estão utilizando estoques do pesticida que haviam sido adquiridos antes da proibição no país. O uso da substância, que além de ser cancerígena, traz outros malefícios como pode causar a esterilidade em seres humanos e animais.
"Algo muito preocupante porque pode afetar não só a fauna da região como as pessoas que moram ali e dependem do Santo Antônio para sobreviver”, alerta Gustavo Figueirôa que completou:
"Constatamos a presença de altos níveis de nitrato e fosfato, presença de coliformes fecais e, principalmente, de substâncias tóxicas".
O relatório também destacou a falta de manejo correto para a conservação do solo e da água que são destinadas à produção de grãos no entorno do rio Santo Antônio, assim como o plantio da soja em áreas que costumeiramente eram pastagens que agora estão contribuindo para a contaminação da água.
Outra razão de escolha do monitoramento do rio Santo Antônio ocorreu pela baixa Área de Preservação Permanente (APP), conforme determina o Código Florestal, assim como o manejo inadequado do solo.
O SOS Pantanal, destacou que a instalação de curvas de nível, integradas com a mata ciliar APP, é um dos garantidores decisivos para a manutenção da qualidade da água dos rios.
Levantamento
O estudo iniciou durante a safra da soja entre outubro de 2023 até março de 2024, que percorreu o rio Santo Antônio, o principal afluente que desagua no rio Miranda. Em três pontos distintos encontraram a presença do agrotóxico. Confira o gráfico:
O Relatório de Resíduos de Agrotóxicos no Rio Santo Antônio, apresentado em um evento que reuniu pesquisadores na data que faz alusão ao dia Mundial da Água, é propício para debater a importância preservação, manejo correto do solo pela agricultura e debater soluções.
A pesquisa inédita foi liderada pela engenheira ambiental Jahdy Moreno Oliveira e pelo engenheiro-agrônomo Felipe Augusto Dias, do Instituto SOS Pantanal.
Conforme o SOS Pantanal, a escolha do Rio Santo António para o estudo levou em conta que o manancial em questão é responsável pelo abastecimento hídrico do município de Guia Lopes da Laguna. Com o resultado os pesquisadores querem entender como isso pode refletir na saúde da população.
Os dados foram apresentados durante o Seminário do Dia Mundial da Água, evento que ocorreu no Auditório Professor Inardi Adami, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, com o tema “Mato Grosso do Sul e Aquífero Guarani: Fonte de Água e Fonte de Vida”.
O estudo também sugeriu algumas recomendações para a preservação do rio que é um importante manalcial de Guia Lopes da Laguna como:
A criação de fóruns permanentes envolvendo entidades de classe ligadas à produção agropecuária para o debate sobre práticas conservacionistas de solo e água;
O uso adequado de produtos químicos;
Monitoramento continuado do uso de agrotóxicos na bacia do Rio Santo Antônio;
Ampliação do monitoramento de agrotóxicos que impactam indivíduos da fauna aquática do Pantanal, como peixes e ariranhas;
A reportagem entrou em contato com a Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), que garantiu o comprometimento com boas práticas no campo. Citando como referência o Ciclo de Sustentabilidade que é um programa de proteção de nascentes de rios.
O objetivo é a conservação e recuperação de áreas degradas nas propriedades rurais. Com relação ao uso dos chamados defensivos, a Famasul destaca que a prática é regida por um robusto regulamento do Ministério da Agricultura e Pecuária.
Sobre à questão ambiental apresentada pela pesquisa, a Famasul explicou que Mato Grosso do Sul possui órgão ambiental estatural, o Imasul, responsável pela fiscalização de acordo com o que dita o Código Florestal Brasileiro, tendo total liberdade para analisar informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR) dos proprietários rurais.
De modo que para o produtor realizar sua atividade agrícula regular, devem estar com os requisitos ambientais do CAR em dia, o que é a realidade da grande maioria do Estado.
Na questão do uso de defensivos, ressaltou que o produto precisa ter o uso regulamentado pela Iagro, e ainda passa pela liberação da Anvisa e do Ibama, que realizam estudos para avaliar potenciais riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Por isso, a Famasul, pontua que os defensivos agrícolas utilizados no Brasil passaram por intensa avaliação de risco, o que nos confere grande segurança.
Veja a nota
"Além disso, vale lembrar que, existe um extenso regramento por meio de Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho (NR 31, por exemplo) sobre o correto manuseio de defensivos agrícolas e o uso de equipamentos de proteção individual. Neste âmbito que entra o trabalho do SISTEMA FAMASUL/SENAR de capacitação e treinamento sobre a aplicação e cumprimento das normas regulamentadoras por parte dos trabalhadores e produtores rurais.
O SISTEMA FAMASUL/SENAR tem inúmeros exemplos de produtores com boas práticas. Nós atendemos mais de 9 mil produtores no MS, de maneira que levamos mensalmente informações sobre gestão e boas práticas no campo. Podemos destacar o Programa ESG e Proteção de Nascentes, os quais levam conhecimentos sobre sustentabilidade e proteção ambiental, respectivamente. De forma complementar, mais de 50 mil trabalhadores e produtores rurais passam pelos nossos treinamentos sobre diversas técnicas, dentre elas o correto uso e manuseio de defensivos agrícolas.
Portanto, o SISTEMA FAMASUL/SENAR cumpre papel fundamental de disseminação de conhecimento em prol da produção sustentável no MS.
Em relação ao estudo, o mesmo deve passar por uma análise técnico-científico sobre a consistência e metodologia de análise dos dados, antes de qualquer consideração ou juízo de valor".